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Jeff Bezos vai ao espaço – e diz que o rival Richard Branson não esteve lá

Voo do fundador da Amazon ultrapassou a linha de Karman, a 100 km de altitude, que marca a fronteira do espaço; equipe de Bezos passou os últimos dias atacando Branson, que alcançou "apenas" 86 km. Entenda a polêmica.

Por Carolina Fioratti e Bruno Garattoni
Atualizado em 20 jul 2021, 16h37 - Publicado em 20 jul 2021, 16h35

Na manhã desta terça-feira (20), Jeff Bezos, fundador da Amazon e da empresa de astronáutica Blue Origin, viajou ao espaço com mais três acompanhantes. O voo durou apenas 10 minutos, mas foi suficiente para que os tripulantes vissem a Terra de cima. O bilionário escolheu a data de hoje porque é o aniversário (de 52 anos) do pouso da Apollo 11 na lua.

Mas o inglês Richard Branson, fundador da empresa de aeronáutica Virgin Galactic, aproveitou a brecha e decolou antes, realizando um voo similar e também tripulado no dia 11 de julho, mais de uma semana antes. Isso desencadeou uma guerra indireta, e pública, entre os dois bilionários: a equipe de um tem menosprezado o feito do outro, dizendo que o rival não esteve realmente no espaço. 

Ambos os voos foram suborbitais, ou seja, as naves alcançaram a fronteira do espaço e voltaram, sem dar uma volta ao redor da Terra. Mas há grandes diferenças entre eles.

Jeff Bezos viajou a bordo do foguete New Shepard (o nome é uma homenagem ao astronauta Alan Shepard, que em 1961 se tornou o primeiro americano a ir ao espaço). Após o lançamento, a espaçonave subiu cerca de 75 quilômetros até que a cápsula onde estavam os tripulantes se desprendesse do foguete.

Ela seguiu até alcançar 100 quilômetros de distância do nível do mar: altitude conhecida como linha de Karman, em que é marcada a fronteira entre a atmosfera terrestre e o espaço. A nave realizou o pouso na Terra com auxílio de paraquedas e um retrofoguete. 

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Foto do foguete New Shepard, na plataforma de lançamento.
Foguete New Shepard, utilizado na viagem tripulada da Blue Origin. (Blue Origin/Divulgação)

A cápsula tinha capacidade para quatro viajantes. Além de Bezos, estavam Mark Bezos, irmão do empresário, Wally Funk, aviadora americana de 82 anos, e Oliver Daemen, holandês de 18 anos que conseguiu a vaga através de um leilão realizado pela Blue Origin – a brincadeira custou ao pai do garoto, diretor da consultoria financeira Somerset Capital Partners, US$ 28 milhões (mais de R$ 143 milhões). A cápsula não precisa ser pilotada. 

Richard Branson, por sua vez, viajou a bordo do VSS Unity, um veículo aéreo formado por dois aviões. O avião maior decolou e subiu até alcançar 15 km de altitude – quando liberou o avião menor, que seguiu rumo ao espaço levando os tripulantes. Ele alcançou uma altitude de 86 km. Na volta, desceu planando. A aeronave da Virgin Galactic comporta seis pessoas, sendo dois pilotos. O voo tripulado deste mês foi o quarto já realizado pela empresa, porém foi o primeiro a contar com todos os assentos ocupados. 

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Foto do VSS Unity no céu.
Avião espacial VSS Unity, utilizado na viagem suborbital da Virgin Galactic. (Virgin Galactic/Divulgação)

Resumindo: Branson foi ao espaço antes, roubando o pioneirismo de Bezos. Mas não atravessou a linha de Karman – por isso, na visão de Bezos, ele não foi realmente ao espaço.

A conta oficial da Blue Origin no Twitter chegou a divulgar um infográfico comparando os voos de Bezos e Branson. De acordo com a empresa, a nave da Virgin Galactic não alcança o espaço, já que não ultrapassa a linha de Karman. Além disso, foi criticado o fato do lançamento ser feito através de um “avião de alta altitude”, e não um foguete, como o New Shepard. 

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Sobrou até para as janelas do VSS Unity, consideradas pequenas demais pela equipe da Blue Origin. Até o impacto ambiental virou assunto: a empresa de Bezos disse que a concorrente causaria 100 vezes mais danos à camada de ozônio.

A Nasa adota um critério diferente no que diz respeito à fronteira do espaço. Para a agência espacial americana, ele começa a 80 km de altitude – portanto, ao alcançar 86 km, Richard Branson também esteve lá. Mas nem isso a Blue Origin aceitou: a empresa chegou publicou até um tuíte dizendo que, “para 96% da população mundial, o espaço começa na linha de Karman, a 100 km”. Os tais 96% são a população mundial descontando os EUA (4%).

Branson respondeu aos ataques de forma sucinta: durante o programa Today Show, da emissora americana NBC, ele disse que “não há uma competição” espacial com o dono da Amazon, e que só estava realizando um sonho pessoal de ir ao espaço. 

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Não é bem assim. Tanto Bezos quanto Branson pretendem explorar o turismo espacial. Branson tem planos de iniciar sua operação comercial em 2022, com objetivo de realizar até 400 voos por ano. Cerca de 600 pessoas já compraram passagens da Virgin Galactic, que custaram entre US$ 200 mil e US$ 250 mil (cerca de R$ 1,3 milhão). Bezos tem planos mais ambiciosos. Além de oferecer viagens espaciais turísticas,  para civis, ele pretende que a Blue Origin leve astronautas à Lua.

Mas outro bilionário saiu na frente. A Nasa contratou a SpaceX, empresa de Elon Musk, para realizar uma viagem tripulada ao satélite, programada para 2024. A Lua não é o limite para o Musk, que deseja levar humanos à Marte – e também já foi alvo de Bezos no passado.  

Em 2019, o fundador da Amazon ridicularizou os planos de Musk de colonizar Marte: “Meus amigos que querem se mudar para Marte? Eu digo, faça-me um favor: vá viver no topo do Monte Everest por um ano primeiro e veja se você gosta, porque é um jardim do paraíso em comparação com Marte”. O fundador da SpaceX retribuiu à altura: chamou Bezos de “imitador” após a Amazon anunciar seu plano de lançar satélites de transmissão de Internet (um serviço que a SpaceX já oferece, com o serviço Starlink). 

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