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Anticorpos de lhamas podem ajudar no combate à Covid-19

Elas podem fornecer um tipo específico de anticorpo, capaz de ser administrado via inalador – e impedir o SARS-Cov-2 de infectar os pulmões.

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 4 Maio 2020, 19h29 - Publicado em 4 Maio 2020, 18h20

Até que se tenha uma vacina contra o coronavírus, qualquer indício de um novo tratamento para a Covid-19 pode ser uma luz no fim do túnel. Agora, os holofotes estão no medicamento Remdesvir, desenvolvido para ser usado contra o ebola, mas novas pesquisas apontam caminhos mais inusitados.

Um estudo da Universidade do Texas e da Universidade de Gante, na Bélgica, detectou que anticorpos de lhamas podem ajudar humanos, neutralizando o SARS-Cov-2 antes que ele entre nas células do pulmão. O artigo será publicado na revista Cell e já passou por revisão de pares.

Os pesquisadores usaram duas cópias do anticorpo VHH, produzido pelas lhamas, para criar um novo anticorpo que se conecta diretamente às proteínas spike, presentes na superfície do coronavírus.

As proteínas spike são a chave para entender os coronavírus – o prefixo “corona” surgiu porque essas proteínas dão ao vírus a aparência de uma coroa. Para infectar os humanos, elas se ligam a uma outra proteína, chamada ACE2, que está presente nas células do trato respiratório.

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Se um anticorpo se ligasse às proteínas spike antes de chegar nas células humanas, o vírus não conseguiria infectar o hospedeiro e nem se reproduzir. Testes in vitro mostraram que o novo anticorpo derivado das lhamas faz justamente isso. Segundo os autores do estudo, esse é um dos primeiros anticorpos capaz de neutralizar especificamente o SARS-Cov-2.

Pode parecer estranho, mas as lhamas não foram escolhidas ao acaso. Elas produzem dois tipos de anticorpos: um que é parecido com o dos humanos, e um bem menor: os nanocorpos, ou VHH. Estudos anteriores já mostravam que os anticorpos desses animais tinham o mesmo efeito sobre o vírus influenza. Em 2016, os pesquisadores da Universidade de Gante já estudavam os anticorpos para a neutralização do SARS-Cov-1, o da epidemia de 2002, e do MERS-Cov, da Síndrome Respiratória do Oriente Médio, um primo mais letal do corona, só que menos contagioso, detectado em 2012.

As pesquisas anteriores não tinham nenhuma aplicação prática na época, já que as epidemias já estavam controladas, mas foram essenciais para que os pesquisadores conseguissem apresentar resultados contra a SARS-Cov-2 em poucas semanas.

O tratamento vai passar por testes em animais, seguido de humanos. Se aprovado, os cientistas esperam que o antiviral possa ser usado para proteger quem ainda não pegou o vírus e quem ainda está em fase inicial da doença. Enquanto uma vacina estimula o próprio corpo a produzir anticorpos, a terapia derivada das lhamas fornece os anticorpos prontos ao organismo, conferindo imunidade imediata.

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Por se tratarem de anticorpos pequenos, eles podem ser administrados por meio de inaladores, o que permite que eles atuem diretamente pela porta de entrada do coronavírus. O tratamento seria uma opção e reforço para grupos de risco e profissionais da saúde até que seja desenvolvida uma vacina eficaz, mas precisa passar por testes com animais e com humanos para ser aprovado.

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