Apollo 14 – Alan Shepard à bordo
Após o incidente com a Apollo 13, a 14 faz uma missão bem sucedida, e leva o Yuri Gagarin americano à Lua.
O acidente que vitimou a Apollo 13 levou a uma investigação, e os voos lunares foram interrompidos por alguns meses. Sua sucessora, a Apollo 14, só voaria em 31 de janeiro de 1971, com modificações inspiradas pela missão anterior. O objetivo era essencialmente o mesmo: pousar na formação Fra Mauro, alvo original da viagem abortada.
Era mesmo o destino de Alan B. Shepard Jr. visitar aquela região lunar. Ele e sua tripulação, composta pelo piloto do módulo de comando Stuart A. Roosa e pelo piloto do módulo lunar Edgar D. Mitchell, haviam originalmente sido escolhidos por Donald “Deke” Slayton, o chefe dos astronautas, para a Apollo 13. A gestão do programa recusou. Shepard ainda não estaria pronto para comandar uma missão com a complexidade da Apollo.
Estamos falando de um herói americano, realizador do primeiro voo espacial dos EUA. Só que, após aquela missão suborbital de 15 minutos, Shepard ficou encostado. Em 1964, fora diagnosticado com um problema no ouvido interno que causava crises de tontura e náuseas. Ele só voltaria à ativa após uma cirurgia, em 1969, mas a avaliação foi a de que precisaria treinar mais. Por isso, Jim Lovell acabou com a Apollo 13, e Shepard passou à 14. Ironicamente, o local de pouso também acabou passando da 13 para a 14.
Era um risco real. Em janeiro de 1970, antes do voo da Apollo 13, a Nasa já havia decidido cancelar a planejada Apollo 20. Depois do acidente, resolveram também não conduzir as missões 18 e 19. Dava a impressão de que estavam tentando encurtar o programa para reduzir riscos, além de custos.
Aos 47 anos, Shepard era àquela altura o mais velho astronauta americano em atividade. Mas conduziu uma missão fantástica. Claro que houve apertos pelo caminho, como sempre acontece. No início da jornada, o módulo de comando Kitty Hawk teve dificuldades para se acoplar ao módulo lunar Antares. A tripulação fez cinco tentativas infrutíferas até que, na sexta, deu certo. Se o problema voltasse a acontecer no retorno da Lua, poderia ameaçar a vida dos astronautas.
Outros soluços com o módulo lunar também tiveram de ser enfrentados antes da descida. Ele estava travando sozinho no modo de aborto, o que poderia causar problema na alunissagem. Um software teve de ser escrito às pressas, na Terra, e enviado ao Antares, programando o computador para ignorar o sinal falso. E aí o pouso deu certo. Mas numa região com inclinação de oito graus, o que deixou o módulo “torto”.
Ao longo de duas caminhadas, Shepard e Mitchell colheram um monte de amostras, instalaram instrumentos científicos e, na segunda excursão, tentaram chegar, ladeira acima, à borda da cratera Cone, com seus 300 metros. Após muito caminhar, a dupla preferiu voltar, com medo de ficar sem oxigênio. Imagens analisadas depois permitiram concluir que eles chegaram bem perto, a menos de 30 metros da borda.
Foram quase 45 quilos de rochas trazidas para a Terra e a maior distância percorrida a pé na Lua em todo o programa Apollo: 2,7 km ao todo. Foi a primeira vez que os astronautas usaram uma espécie de carrinho de mão para transportar equipamentos e também a primeira caminhada espacial em que o traje do comandante tinha uma faixa vermelha no capacete – destinada a ajudar a identificar quem era quem nas imagens. (Os trajes da Apollo 13 já tinham a mudança, mas não chegaram a ser usados.)
Também foi a primeira vez que um astronauta deu uma tacada de golfe na Lua. Shepard “contrabandeou” duas bolas de golfe, que ele então golpeou com o instrumento de coleta da amostra de contingência. Segundo ele, a segunda bola viajou por “milhas e milhas e milhas”, beneficiada pela baixa gravidade lunar.
As caminhadas na Lua duraram um total de 9 horas e 22 minutos, e o Antares permaneceu em Fra Mauro por 33 horas e 30 minutos até a decolagem do estágio de ascensão, para o reencontro de Shepard e Mitchell com Roosa em órbita lunar. A rota para a Terra foi percorrida sem sobressaltos, e a missão terminou no Pacífico em 9 de fevereiro de 1971.