Atmosfera da Terra retém o dobro de calor que retinha há 30 anos
Gases de efeito estufa estão dificultando a saída da energia solar, e assim retendo o calor no planeta, revelou novo estudo.
A batata está assando, e cada vez mais literalmente. O impacto das mudanças climáticas está tornando as coisas aqui cada vez mais parecidas com um verdadeiro forno, e uma pesquisa nova revela o porquê: a atmosfera do planeta está retendo mais do que o dobro do excesso de calor hoje do que retia em 1993.
O estudo foi publicado no jornal Earth System Science Data, e faz parte do Indicadores de Mudança Climática Global, um relatório anual que atualiza e compila diversas informações e estudos sobre as mudanças climáticas no planeta (de forma similar ao IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). O último relatório, publicado no ano passado, contou com a participação de mais de 50 cientistas.
De acordo com o estudo, o excesso de calor na atmosfera é causado pelo desequilíbrio energético do planeta – ou seja, da quantidade de energia que entra no planeta a partir do Sol e a quantidade que sai. É o que explica Karina von Schuckmann, pesquisadora na organização Mercator Ocean International, e uma das autoras do estudo.
“A Terra está fora de equilíbrio energético, o que se deve ao efeito estufa. Há menos energia deixando o sistema”, conta em entrevista à New Scientist.
A emissão de gases de efeito estufa está tornando a atmosfera cada vez mais obstruída. Assim, a energia do Sol consegue entrar, mas não consegue sair, e grande parte dessa energia está na forma de calor.
A pesquisa mostrou que o desequilíbrio energético do planeta ficou em torno de 0,42 watts por metro quadrado (w/m²) entre 1974 e 1993. Mas de lá pra cá, a chapa só esquentou. De 2004 até o ano passado (2023), esse número chegou a dobrar, atingindo 0,87 w/m².
Para quem é fã de um calorzinho, isso pode até parecer algo positivo, mas na prática, pode causar grandes problemas para diversos outros aspectos do planeta.
“O desequilíbrio energético da Terra não é apenas uma espécie de quantidade esotérica que os cientistas gostam de observar. Tem implicações no mundo real”, conta Norman Loeb, pesquisador do Centro de Pesquisa Langley da NASA, em Virgínia, nos EUA.
Esse calor todo afeta de forma principal os oceanos, que absorvem 90% desse excesso. Em fevereiro deste ano, por exemplo, os oceanos registraram o recorde de temperatura mais quente em sua superfície, com uma média de 21.06º Celsius. Segundo a UNESCO, 2023 foi o ano mais quente na história dos oceanos.
O excesso de calor nas águas acarreta um grande efeito dominó. O calor adicional que aquece o oceano diminui sua capacidade de capturar o CO2 do ar, o que impulsiona o aumento do nível do mar.
Esse processo todo afeta de maneira direta a vida marinha, como podemos ver no efeito dos branqueamento de corais. Além disso, há mudanças nos níveis de oxigênio dos oceanos, a química marinha e as alterações das correntes marítimas.