Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Cientistas encontram o primeiro animal que possui um gene de planta no DNA

Esse trechinho de DNA ajuda o Bemisia tabaci a neutralizar as toxinas dos vegetais que come – e provavelmente chegou nele de carona com um vírus que estava em uma folha mordida.

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 3 ago 2022, 11h08 - Publicado em 2 abr 2021, 17h46

O inseto fofo que você vê na foto é uma das piores pragas da agricultura. Ele ataca mais de 600 espécies de plantas e transmite mais de 100 vírus patogênicos a elas. O Bemisia tabaci é duro de matar: come folhas de plantas tóxicas e não fica nem com dor de barriga. Agora, um artigo publicado no periódico Cell explicou o superpoder do inseto de um centímetro: um gene vegetal em seu DNA, que faz com que consiga neutralizar as toxinas das plantas. Trata-se do primeiro caso registrado de transferência de genes entre plantas e animais.

Algumas plantas produzem substâncias tóxicas aos insetos herbívoros – uma estratégia evolutiva para não virar almoço. Para não serem envenenadas pela própria toxina, essas plantas usam o gene BtPMaT1, responsável por produzir uma proteína que transforma o composto em uma molécula inofensiva que pode ser armazenada nas células.

Foi justamente esse gene que os cientistas encontraram no Bemisia tabaci – o único inseto conhecido que incorporou esse inibidor de toxinas. A equipe estima que o BtPMaT1 chegou ao inseto há 35 milhões de anos de carona em um vírus. O tabaci deve ter comido uma folha infectada, e então o patógeno anexou o gene ao DNA do animal quando invadiu suas células. O legal do DNA é que ele é um código de programação universal: qualquer ser vivo lê qualquer gene de qualquer outro. 

“É uma situação extremamente improvável, mas se pensarmos nos bilhões de insetos, vírus e plantas interagindo por milhões de anos, um evento desses poderia acontecer”, diz Ted Turlings, coautor do estudo. “E se o gene adquirido for benéfico aos insetos, ele vai ser favorecido evolutivamente e se espalhar”. 

Os pesquisadores começaram analisando o genoma do inseto. Ao encontrar o BtPMaT1, eles conferiram bases de dados internacionais à procura de outros insetos que tivessem o gene, mas não encontraram nada. O gene só era visto em um outro grupo de seres vivos: as plantas.

Continua após a publicidade

Tanto plantas quanto animais já “roubaram” genes de diversos microrganismos. O Thinopyrum elongatum, um primo selvagem do trigo, incorporou o gene de um fungo que o ajuda a combater infecções. A própria mitocôndria, presente nas células eucariontes, já foi uma bactéria independente até ser fagocitada por outra maior e incorporada ao seu metabolismo. No entanto, esse tipo de troca nunca havia sido observada entre animais e plantas.

Além de identificar o gene no Bemisia tabaci, os pesquisadores ainda encontraram uma maneira de tornar o inseto vulnerável à toxina novamente. Para isso, eles criaram pés de tomate geneticamente modificados para produzir uma molécula específica de RNA. Ao ser ingerida, essa molécula entra nas células do inseto e inibe a expressão do BtPMaT1.

Após ingerirem as folhas desse pé de tomate, quase todos os insetos morreram. Com o gene herdado da planta impedido de atuar, a B. tabaci perde seu superpoder e volta a ser suscetível à toxina. Essa seria uma maneira de eliminar a praga sem afetar os outros insetos importantes para a polinização.

Ainda são necessárias mais pesquisas antes de colocar uma planta transgênica anti-tabaci no mercado. No entanto, esse é um bom exemplo de como pesquisas sobre evolução podem ter um impacto prático na economia, que vai além da ciência de base. 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.