Experimento da Nasa com pimentas quebra dois recordes mundiais
Astronautas cultivaram uma variedade mexicana, a "Española Improved", na Estação Espacial Internacional; planta demorou mais do que o esperado para crescer
Um experimento realizado pela Nasa, que consistia em cultivar e colher pimentas no espaço, quebrou o recorde mundial por alimentar mais astronautas com uma safra cultivada no espaço. Além disso, foi o experimento com plantas mais longo já realizado na Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês).
Chamado de “Plant Habitat-04” (ou PH-04), o teste tem como objetivo aumentar o conhecimento sobre o cultivo de alimentos para missões espaciais longas. Segundo a Nasa, ele é um dos experimentos com plantas mais complexos já realizados na ISS, por conta da longa germinação e do tempo de crescimento das pimentas.
O estudo começou escolhendo as pimentas certas. Pesquisadores da Nasa passaram dois anos avaliando mais de vinte variedades de pimenta de todo o mundo, para entender qual poderia se dar melhor no ambiente controlado de cultivo que iria para o espaço. A escolhida foi a “Española Improved”, um híbrido desenvolvido pela Universidade Estadual do Novo México que combina duas variedades (a “Hatch Sandia” e a “Española”).
Ao todo, 48 sementes foram plantadas em um dispositivo chamado “carregador científico” contendo argila para o crescimento de raízes e fertilizante de liberação controlada para pimentas. O dispositivo foi enviado para a ISS no início de junho, em uma missão de reabastecimento de carga operada pela SpaceX. Ao chegar à Estação Espacial Internacional, o aparelho foi encaixado na APH (Advanced Plant Habitat), a maior das três câmaras de crescimento de plantas a bordo do laboratório da estação, que tem uma série de sensores para monitorar o crescimento das plantas.
O experimento começou em 12 de julho e foi monitorado por uma equipe de pesquisadores na Terra, que controlava a irrigação, iluminação e outras condições ambientais na câmara. A tripulação da ISS também participou do experimento, fazendo algumas tarefas de horticultura.
A ideia era fazer duas colheitas em 120 dias, mas as pimentas demoraram mais do que o esperado para crescer. O experimento durou 137 dias no total, com colheitas em 29 de outubro e 26 de novembro.
Os astronautas da ISS comeram as pimentas frescas, que também fizeram parte de uma “noite de taco”, como registrou a astronauta Kayla Barron em sua conta no Instagram. Na legenda da publicação, ela diz que o nível de picância “não era brincadeira”.
Matt Romeyn, que liderou o experimento, explica que a picância das pimentas, assim como seu tempo de cultivo, pode ter sido afetado pela microgravidade. Isso ainda será analisado a partir da comparação entre 12 pimentas que vão retornar à Terra e pimentas do mesmo tipo cultivadas por aqui.
Astronautas em missões espaciais comem principalmente alimentos embalados, junto com alimentos frescos entregues em missões de reabastecimento. Mas reabastecer tripulações em missões longas, em lugares mais distantes do que a ISS (que orbita o planeta), representa desafios logísticos.
Cultivar alimentos no espaço pode ser uma solução, e, segundo Romeyn, o experimento recente foi “uma demonstração de grande sucesso de que estamos no caminho certo para a produção de culturas espaciais”.