Golfinhos se esfregam em corais para cuidar da pele, indica estudo
Comportamento já foi observado entre outros mamíferos aquáticos; muco liberado por alguns corais e esponjas poderia tratar infecções bacterianas.
No Mar Vermelho, na costa do Egito, golfinhos-nariz-de-garrafa fazem fila para nadar entre recifes de corais – e se esfregam repetidamente contra eles. O comportamento foi descrito pela primeira vez na última quinta-feira (19) e pode fazer parte da rotina de cuidados com a pele desses mamíferos aquáticos.
A bióloga e mergulhadora Angela Ziltener, da Universidade de Zurique (Suíça), observou esses golfinhos (da espécie Tursiops aduncus) esfregando sua pele contra corais e esponjas há treze anos.
Ela percebeu que os animais esfregavam diferentes partes do corpo nos corais e esponjas, e pareciam escolher sobre quais organismos nadar, pois sempre voltavam para os mesmos. Você pode observar o comportamento no vídeo abaixo:
Dolphins rub themselves against special corals to treat their skin problems. Researchers at the Universities of Zurich and Giessen show that these corals have biospecific properties. @DWAORG @jlugiessen https://t.co/mBxNP3w5Wg pic.twitter.com/QIgAt6WO41
— University of Zurich (@UZH_en) May 19, 2022
Os cientistas já sabem que outros mamíferos aquáticos, como orcas e baleias beluga, investem no contato físico contra areia, calcário e outros materiais encontrados no fundo do mar – talvez para uma espécie de esfoliação. Então, Angela suspeitou que o caso dos golfinhos também poderia ser de skin care.
Ela e uma equipe de biólogos começaram a investigação visitando regularmente os golfinhos no Mar Vermelho. Mergulhando com os animais, a equipe identificou quais eram os corais escolhidos, entre as centenas de espécies existentes nos recifes.
Observando o comportamento de perto, os pesquisadores também perceberam que alguns dos corais e esponjas liberavam muco quando os golfinhos se esfregavam neles, e que a pele dos mamíferos eventualmente ficava manchada de amarelo ou verde após o processo.
Então, em 2019, a equipe coletou amostras de duas espécies de corais (Rumphella aggregata e Sarcophyton sp.) e uma esponja (Ircinia sp.) que eram preferidos pelos mamíferos. Analisando os organismos em laboratório, os cientistas identificaram 17 substâncias com propriedades antibacterianas ou antioxidantes.
O estudo, publicado na revista iScience, sugere que o objetivo da fricção repetida é regular o microbioma da pele a partir do muco liberado pelos invertebrados marinhos. “[Esses componentes químicos] podem ser úteis para profilaxia ou tratamento auxiliar contra infecções microbianas”, explica Gertrud Morlock, autora principal do estudo e química da Universidade de Giessen (Alemanha).
Angela também afirma, em comunicado, que os golfinhos costumam se esfregar nos corais entre cochilos que fazem próximos aos recifes. “É como se eles estivessem tomando banho, se limpando antes de dormir ou acordar.”
Alguns cientistas não envolvidos no estudo acreditam que a “automedicação” dos golfinhos é uma explicação plausível; outros afirmam que talvez os animais simplesmente gostem de se esfregar nos recifes, por algum outro motivo.
A equipe do estudo pretende continuar investigando o comportamento para entendê-lo melhor, inclusive a partir da análise de um banco de imagens de milhares de golfinhos, fotografias tiradas entre 2009 e 2021.