Marte comemora seu 38° Ano Novo hoje. Entenda como funciona a contagem
Por mais que não pareça, hoje é Ano Novo. Não aqui na Terra, claro, mas a 225 milhões de km daqui, em Marte.
Feliz ano novo! Para nós, terráqueos, essa notícia pode parecer estranha, afinal faltam 50 dias para o final do ano gregoriano, 78 para o ano novo chinês e muitos mais para o novo ano judaico. Mas, mesmo assim, existe um outro ciclo novo em curso: o de Marte. Hoje, dia 12 de novembro, às 13h (horário de Brasília), o planeta vermelho passou do ano 37 ao 38.
Para entender como são contados os anos marcianos, vale entender como começaram a ser contados os nossos próprios anos.
Aqui na Terra, o calendário universal, o gregoriano, começou a valer em 1582 (para substituir seu predecessor, o calendário Juliano). Promulgado pelo Papa Gregório XIII, a principal mudança do calendário gregoriano foi ajustar os anos bissextos, já que o calendário anterior superestimava a duração do ano solar (365,25 dias), causando um equívoco de quase um dia por século.
A reforma gregoriana corrigiu esse erro, ajustando a duração média do ano para evitar o desvio do calendário em relação aos equinócios. A regra dos anos bissextos ficou assim: todo ano divisível por 4 é bissexto, exceto anos divisíveis por 100, a menos que sejam também divisíveis por 400. Por exemplo, 1700, 1800 e 1900 não foram bissextos, mas 2000 foi, de acordo com o Departamento de Aplicações Astronômicas.
Para corrigir o desajuste no calendário, foi decidido que, no ano de 1582, após o dia 4 de outubro, quinta-feira, não se seguiria a sexta-feira, 5 de outubro, mas sim a sexta-feira, 15 de outubro. Dessa forma, ao “pular” dez dias, a contagem do tempo foi ajustada para alinhar novamente com o ciclo natural, evitando futuros desajustes e aprimorando a regra do ano bissexto, já adotada.
Primeiro de janeiro
Mesmo com a mudança, o primeiro dia do ano continuou sendo 1° de janeiro.
“Como astrônomo, eu gostaria que o primeiro dia do ano fosse marcado por um evento astronômico significativo, como o periélio, quando a Terra está mais próxima do Sol”, escreve o astrônomo Phil Plait, para a Scientific American. No entanto, não é assim que acontece.
A órbita da Terra muda sutilmente a cada ano devido à gravidade dos planetas e à interação com a Lua, tornando o periélio uma referência imprecisa, apesar de ocorrer em janeiro.
Outra possibilidade seria usar eventos como os equinócios e solstícios, que dependem da inclinação axial da Terra – ângulo entre o plano do equador e o plano de sua órbita. O solstício de junho, por exemplo, ocorre quando o pólo norte está mais inclinado em direção ao Sol. Ou o de dezembro, que na época do calendário juliano, indicava a chegada do ano novo.
Mas, novamente, devido às variações na órbita da Terra, usar essas datas para marcar o ano novo criaria complexidade e imprecisão no calendário.
Onde entra Marte?
Com o avanço das observações de Marte no início do século 20, os astrônomos começaram a perceber padrões globais no planeta que se alinhavam com sua órbita ao redor do Sol.
À medida que sondas espaciais enviadas ao planeta vermelho forneceram dados ainda mais detalhados, a necessidade de um calendário específico para Marte tornou-se evidente. Ao mesmo tempo surgia-se um problema: a contagem do tempo em Marte não poderia seguir os mesmos padrões da Terra.
A principal diferença, e a mais óbvia, é a duração de um ano marciano. Como Marte está mais distante do Sol, leva cerca de 687 dias terrestres para completar uma órbita, quase dois anos da Terra.
Isso significa que um “ano” em Marte é muito mais longo do que os 365 dias que estamos acostumados. Além disso, um dia no gigante vermelho— ou “sol”, como são chamados — é ligeiramente mais longo que o dia terrestre, com duração de 24,6 horas (comparado com as 23,9 da Terra). Ao todo, de acordo com a Nasa, um ano em Marte é composto por cerca de 668 sols.
Assim como a Terra, Marte tem uma inclinação axial de cerca de 25 graus, o que resulta em estações semelhantes às da Terra, com mudanças globais visíveis, como tempestades de poeira e a mudança no tamanho das calotas polares. Era necessário um calendário adaptado.
Os cientistas decidiram que o ano em Marte deveria começar no momento do equinócio vernal, o equivalente à primavera terrestre – quando o Sol atravessa a linha do Equador, indo do sul para o norte.
No entanto, as diferenças na órbita de Marte tornam a definição das estações muito mais complicada. Enquanto a Terra segue uma órbita quase circular, resultando em estações de duração mais uniforme, Marte tem uma órbita elíptica, o que faz com que suas estações variem consideravelmente em duração. Por exemplo, a primavera no hemisfério norte de Marte dura 194 sols, enquanto o verão dura 178 sols, o outono 142 sols e o inverno 154 sols.
A contagem do tempo marciano é outra questão peculiar. Enquanto a Terra avança seu calendário de forma previsível, Marte tem apenas 38 anos registrados até hoje.
Por isso, pesquisadores resolveram marcar o “Ano 1” de Marte com um grande evento: uma enorme tempestade de poeira que tomou conta da superfície marciana em 1956. O equinócio vernal daquele ano aconteceu em 11 de abril de 1955, e é aceito como o primeiro “Dia de Ano Novo” marciano.
Para evitar ambiguidades, cientistas também definiram o “Ano 0” como começando no equinócio de 24 de maio de 1953, assim como o calendário gregoriano, que não possui o ano zero, evita confusões (como a de iniciar o século 21 em 2001, e não em 2000).
Agora, com as regras claras e a contagem de anos estabelecida, o calendário marciano segue seu curso. O “Ano 38” de Marte teve início hoje, 12 de novembro de 2024 no calendário terrestre, às 13 horas.