Parasita prolonga a vida de formigas em até três vezes
Uma espécie de tênia secreta substâncias no corpo dos insetos, que param de trabalhar e vivem muito mais do que as outras formigas.
Graças a um verme parasitário, a espécie de formigas Temnothorax nylanderi ganha mais tempo de vida. A tênia Anomotaenia brevis tem como principais hospedeiros algumas espécies de pica-pau. Mas, se as formigas usarem as fezes dessa ave para alimentar suas larvas, os ovos da tênia eclodem e se desenvolvem dentro do inseto.
Além de viverem mais, as operárias infectadas têm drásticas alterações em seu comportamento. Esse é o foco do estudo de um grupo de pesquisadores de uma universidade alemã, que se dedicam a essas formigas há décadas.
Segundo os cientistas, essas formigas param de trabalhar e de sair do formigueiro. É bom para elas, que não precisam fazer nada, e continuam sendo alimentadas e cuidadas pelas colegas. Mas o resto da colônia sofre com isso, que gera uma sobrecarga de trabalho – as não-infectadas morrem mais cedo que o normal.
Por outro lado, as doentes vivem bem mais do que o tempo normal de um ano. “Nós as observamos por pelo menos três anos”, conta Juliane Hartke, uma das pesquisadoras do estudo. “Também ouvimos falar de sete anos e talvez mais.”
O acréscimo da expectativa de vida não é por nada. Isso é benéfico para o parasita, porque aumentando sua estadia dentro de um corpo de formiga, também aumentam as chances de que um pica-pau se alimente do inseto contaminado, e assim a tênia pode atingir seu hospedeiro definitivo e se desenvolver completamente.
Para tentar identificar como o parasita prolonga a vida da formiga, os pesquisadores compararam a hemolinfa – o equivalente ao sangue do inseto – de infectadas e saudáveis. Eles descobriram que o parasita libera 260 proteínas diferentes nos corpos das formigas.
Duas das proteínas do parasita mais abundantes foram dois antioxidantes. No entanto, é possível que essas substâncias sejam liberadas para proteger os parasitas das defesas das formigas, em vez de serem a causa da vida mais longa das formigas.
A maioria das outras proteínas secretadas pelos parasitas não pode ser identificada – indicando que elas são inéditas ou variações de proteínas conhecidas, possivelmente evoluídas para funcionar na manipulação do hospedeiro.
Isso não seria algo incomum. Alguns fungos, por exemplo, são conhecidos por manipular o comportamento do hospedeiro, e outros vermes também manipulam seus infectados para que vivam por mais tempo – porém, por apenas frações de suas vidas.
Os pesquisadores identificaram, nas formigas infectadas, um excesso da proteína que regula a divisão do trabalho, o que pode explicar o comportamento “relaxado” das formigas contaminadas.
O próximo passo é tentar descobrir o que todas as proteínas não identificadas fazem com a formiga. Isso pode revelar de forma mais definitiva como fazer as formigas viverem mais.