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Pesquisadores brasileiros desenvolvem tecido capaz de eliminar o coronavírus

Material com micropartículas de prata será usado na confecção de máscaras de proteção e roupas hospitalares. Saiba como ele funciona.

Por Maria Clara Rossini
18 jun 2020, 18h22

Boa parte das pessoas já se acostumou com a rotina: tirar a máscara e a roupa ao chegar em casa e já colocar tudo para lavar. Afinal, ninguém quer correr o risco de trazer o vírus escondido no tecido. Mas e se houvesse uma roupa especial, à prova de vírus?

Foi isso que os pesquisadores da USP e UFSCar descobriram: um tecido que elimina microorganismos, incluindo o novo coronavírus. O material é uma mistura de poliéster e algodão – que já estamos acostumados a usar do dia a dia – mas o truque está nas micropartículas de prata que são colocadas na superfície do tecido. Elas são capazes de inativar fungos, bactérias e vírus.

A prata é uma velha conhecida da ciência e medicina. Ela é usada há séculos em cirurgias para evitar a contaminação por bactérias. Não se sabe com detalhes como ela atua, mas é provável que existam vários mecanismos envolvidos. Quando o átomo de prata entra em contato com o oxigênio, ele passa por um processo químico chamado oxidação, o que acaba liberando íons positivos de prata. Esses íons bloqueiam funções básicas de microorganismos, como reprodução e produção de energia. Eles podem danificar, por exemplo, o material genético da célula.

A Nanox, uma empresa de nanotecnologia sediada em São Carlos, já trabalhava com essas micropartículas. Antes da pandemia, o objetivo principal delas era eliminar fungos e bactérias que causam mau odor nas roupas. Além da ação bactericida e fungicida, pesquisas indicavam que as partículas eliminavam alguns tipos de vírus também, mas isso não havia sido olhado a fundo até agora. Com a chegada do coronavírus ao Brasil, eles se perguntaram se a ação antiviral não funcionaria, também, com o SARS-Cov-2.

Roupa anti-Covid

O estudo foi conduzido por pesquisadores da Universidade de São Carlos (UFSCar) em parceria com o Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e a Universitat Jaume I, da Espanha.

A equipe da USP havia coletado amostras do coronavírus dos dois primeiros pacientes diagnosticados com a doença no Hospital Albert Einstein, no início do ano. Os vírus foram cultivados e, posteriormente, usados para testar a ação das micropartículas especialmente no SARS-Cov-2. Nos testes feitos em laboratório, o tecido eliminou 99,9% dos vírus apenas dois minutos após entrarem em contato com o material. Os pesquisadores usaram uma técnica conhecida como PCR para analisar a quantidade de vírus ativos no tecido.

A quantidade de vírus que colocamos em contato com o tecido é muito superior à que uma máscara de proteção é exposta e, mesmo assim, o material foi capaz de eliminar o vírus com essa eficácia”, disse o pesquisador da USP Lucio Holanda Junior em entrevista à Agência Fapesp.

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É animador pensar em ter uma roupa dessas em casa, mas inicialmente a prioridade será para os profissionais que estão na linha de frente e entram em contato com o vírus todos os dias. O Brasil é o país que possui mais enfermeiros mortos pela doença, segundo o Conselho Federal de Enfermagem. Para eles, toda proteção extra é essencial.

A empresa de tecnologia já entrou com o pedido de patente e tem parceria com duas indústrias de tecelagem no Brasil, que irão produzir máscaras e roupas hospitalares com as micropartículas no tecido. Segundo os pesquisadores, o produto deve chegar ao mercado no próximo mês.

Agora, eles estão avaliando a duração do efeito antiviral, ou seja, quantas lavagens o tecido suporta. O material mantém a propriedade fungicida e bactericida após 30 lavagens, e os pesquisadores estimam que esse número seja o mesmo para os vírus. 

Segundo Junior, o tecido é só a ponta do iceberg. Descobrir que os íons de prata conseguem eliminar o SARS-Cov-2 tem grandes implicações para a ciência e os produtos que podem sair disso. O laboratório de biologia já está testando a aplicação das micropartículas em metais, plásticos, borrachas e todo o tipo de material.

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“Imagine aplicar isso em um filtro que pode ser colocado no ar condicionado, em um ônibus, avião ou no plástico de uma máquina de cartão de crédito”, diz o cientista. “Ainda vai sair muita coisa boa daí.”

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