Por que algumas borboletas têm pontos brancos nas asas? Cientistas podem ter a resposta
Não é só pela estética. A cor e tamanho das bolinhas ajudam os insetos a voar melhor e sobreviver à longa migração.
As borboletas-monarca (Danaus plexippus) são uma espécie popular do inseto – provavelmente, são elas que você visualiza quando pensa em borboletas. Além de marcante, o look de asas laranja com bordas pretas e bolinhas brancas também possui uma função prática.
Segundo os pesquisadores de um estudo recente, publicado no periódico PLoS One, os pontos brancos servem para criar diferenças de temperatura nas asas da borboleta. Isso ajuda no voo e facilita a migração do inseto.
Os cientistas analisaram 400 imagens de borboletas-monarca, coletadas em diferentes pontos da migração anual da espécie. Eles perceberam que os indivíduos que faziam a viagem com sucesso costumavam ter uma maior proporção de bolinhas nas asas – era 3% a mais de branco, e 3% a menos de preto.
“É difícil perceber a olho nu, mas para as monarcas, isso pode ser a diferença entre o fracasso e o sucesso durante o longo voo”, afirma Andrew Davis, um dos autores do estudo. “Ficamos muito chocados com isso.”
Eles também compararam as monarcas com outras seis espécies de borboletas que não migram. As campeãs do desfile na categoria “maiores pontos brancos” foram as monarcas, e logo atrás vieram suas parentes da América do Sul, Danaus erippus. As outras cinco ficaram no chinelo.
A viagem das monarcas
As borboletas-monarcas são as únicas borboletas que migram. Outras espécies fazem viagens, geralmente só de ida, em busca de comida. Algumas fazem até migrações curtas. Mas, de toda forma, a migração das monarcas é diferente.
Todo ano, começando em setembro, as monarcas da América do Norte saem dos Estados Unidos e sul do Canadá em direção ao México, onde passam o inverno do hemisfério “hibernando”. Em março, elas fazem o caminho de volta, para a temporada de acasalamento.
Só que as borboletas têm uma expectativa de vida curta, de 2 a 6 semanas. Isso significa que uma única geração não faz uma migração completa. Quando a temperatura começa a esfriar e o outono bate à porta, as borboletas-monarca entram em um estado chamado “diapausa”: meio que uma parada no desenvolvimento. Por causa disso, elas não amadurecem sexualmente quando ficam adultas como as outras, e não conseguem se reproduzir. Já que não precisam gastar energia com acasalamento, elas podem se concentrar na viagem para o sul e, consequentemente, viver mais – de seis a nove meses.
O clima esquenta, e as relações também: com a chegada da primavera, as monarcas começam a se reproduzir, marcando a volta ao norte. Várias gerações passam durante a viagem, que é completada por indivíduos que não conheciam o ponto de partida, nem o de chegada.
Reconhecido como um dos eventos mais impressionantes da natureza, a migração das borboletas-monarca fascina pesquisadores. Pesando menos que um clipe de papel, elas realizam uma das migrações mais longas de qualquer inseto no mundo, viajando até 4 mil quilômetros a cada outono para chegar aos seus destinos de inverno. Várias pesquisas se propuseram a entender como um animal tão pequeno consegue voar tão longe, estudando seu sistema nervoso, o tamanho de suas asas… mas estavam se esquecendo de algo.
“Apesar de todas as pesquisas sobre os fatores que contribuem para o sucesso da migração das monarcas, poucos questionaram se as cores primárias das asas (preto, laranja ou branco) têm alguma função aerodinâmica, ou de outra forma têm um impacto no sucesso da migração”, escrevem os pesquisadores em seu artigo.
A hipótese inicial era diferente. O foco da pesquisa era nas extremidades pretas e no papel que elas tinham. Estudos com alguns pássaros mostraram que penas escuras aumentavam a eficiência do voo e a absorção do calor gerado pelo sol, o que reduz as forças de arrasto. Mas não foi isso que eles encontraram nos insetos.
Pelo contrário, as borboletas-monarca com mais branco nas asas eram mais bem-sucedidas na migração. A nova teoria é que as manchinhas também reduzam as forças contrárias, mas de um jeito diferente. Com a luz do sol batendo nas asas, elas se aquecem de forma desigual: as partes pretas ficam mais quentes e as brancas, mais frias. Os cientistas acreditam que esse conflito de quente e frio crie pequenos redemoinhos de ar ascendente, que facilita o voo.
Eles, porém, não podem confirmar isso com seu estudo, que observou apenas a correlação entre as manchas maiores e o maior sucesso migratório. Segundo os cientistas, o próximo passo seria testar a aerodinâmica das asas, usando túneis de vento e asas artificiais em experimentos interdisciplinares.
Caso a hipótese se prove verdadeira, ela pode ser revertida em avanços para a engenharia, que se beneficiaria de escolhas de pintura para aspectos práticos. “Se estivermos certos, e se as monarcas realmente estiverem utilizando essa técnica de design simples, também seria simples pegar um pouco de tinta e jogá-la na asa de um avião”, afirma Davis.
Além disso, saber mais das habilidades das borboletas-monarca seria importante para compreender sua relação com a mudança climática e destruição de seus habitats naturais. Embora a espécie em geral não esteja seja motivo de preocupação, a subespécie da borboleta que realiza a migração é considerada, desde 2021, ameaçada de extinção. O desmatamento no México, onde elas hibernam, e o uso de herbicidas nos Estados Unidos, que matam as únicas flores em que elas põem os ovos, desestabilizam as populações da espécie, que estão em declínio há duas décadas.