Robô Curiosity capturou imagens de nuvens brilhantes no céu de Marte
Essas felpudas, fora de época para o ano marciano, deram um show com a luz do crepúsculo – e parecem ser feitas de dióxido de carbono congelado, o famoso gelo seco.
Pense num robô vagando sozinho por anos em um ambiente inóspito e alaranjado. Não, não estamos falando de Wall-E. O camarada em questão é o Curiosity, um rover da Nasa que pousou em Marte em agosto de 2012 e segue ativo até os dias de hoje. Ele foi enviado com o objetivo de investigar o clima e a geologia marciana; e continua realizando seu trabalho com qualidade mesmo apesar da idade avançada para os padrões robóticos.
Na última semana, a Nasa divulgou imagens de nuvens brilhantes no céu de Marte capturadas pelo Curiosity. A luminosidade não foi a única coisa que surpreendeu os pesquisadores: as nuvens em si apareceram mais cedo que o esperado para a época do ano no Planeta Vermelho.
Apesar de nuvens serem algo comum na Terra, elas são raridade em Marte. Por lá, costumam surgir apenas nos períodos mais frios do ano marciano, e se aglomeram perto da linha do equador.
O Planeta Vermelho tem estações do ano similares às que conhecemos, porque seu eixo de rotação também é inclinado (25,2º, contra os 23,4º da Terra). Mas há um fator extra em jogo: a distância do Sol em diferentes pontos da órbita. Na Terra, essa variável não influencia de maneira sensível nas temperaturas; em Marte, sim. O planeta como um todo fica mais frio quando está mais longe da estrela, independentemente de ser verão ou inverno no hemisfério em que você está.
A descoberta das nuvens “precoces”, como foram chamadas pela Nasa, não é tão recente assim. Na verdade, os cientistas perceberam a presença delas sobre o rover dois anos terrestres atrás – o equivalente a um ano marciano. Sabendo que elas surgiriam de novo neste ano, os cientistas se prepararam para documentá-las assim que voltassem a aparecer no céu, o que ocorreu no final de janeiro.
As rechonchudas tradicionais, que surgem no auge do frio, costumam ficar a uma altitude de, no máximo, 60 km, além de serem compostas por gelo e água. Já essas nuvens “precoces” parecem estar em uma região muito mais alta da atmosfera – a altitude exata ainda não foi determinada –, onde faz muito frio. Sua composição química também é diferente: elas provavelmente são formadas por dióxido de carbono congelado, o famoso gelo seco.
O brilho não foi causado por nenhuma treta de heróis da Marvel no espaço. Nuvens reluzentes como as da foto que abre este texto são chamadas de noctilucentes ou crepusculares, e sua luminosidade aparece quando cristais de gelo (ou, neste caso, de gelo seco) espalham a luz do Sol poente em várias direções.
Há também as nuvens iridescentes, também conhecidas como nuvens de madrepérola, que exibem tons pastéis cintilantes. Rosa, amarelo, azul: as partículas cristalizadas no interior dessas felpudas funcionam como o famoso prisma de Newton, decompondo luz em diferentes cores. Os responsáveis pelas fotos explicam que essa aquarela não é visível apenas pelas lentes do robô: se houvesse astronautas por lá, eles poderiam presenciar o jogo de luz.
As imagens em preto e branco, como a que você vê abaixo, foram obtidas a partir das câmeras de navegação do Curiosity, e mostram com maior precisão as estruturas finas e onduladas das nuvens. Os cliques coloridos tem outra fonte: foram tirados com a Mastcam, uma câmera que costura imagens de vários ângulos para criar um panorama da paisagem ao redor do rover. Ela imita melhor a visão humana.