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Um quarto das pessoas em coma pode entender o que é falado

Estudo revelou que 25% das pessoas com lesões cerebrais graves que não respondem a comandos verbais exibem atividade cerebral em resposta a eles.

Por Manuela Mourão
Atualizado em 19 ago 2024, 15h42 - Publicado em 18 ago 2024, 16h00

Um artigo publicado no periódico especializado New England Journal of Medicine analisou a atividade cerebral de pacientes em coma (e outros estados similares) quando são orientados a se imaginar em movimento ou fazendo exercícios.

Os pesquisadores descobriram que, embora não consigam falar ou se mover, um quarto desses pacientes não está completamente inconsciente: eles são capazes de ouvir e entender o que é dito ao redor, ainda que não consigam esboçar nenhuma reação.

Os pesquisadores analisaram 353 pacientes com lesões cerebrais provocadas por traumas físicos, ataques cardíacos ou derrames, dos quais 241 não apresentavam respostas a testes tradicionais de comando, como levantar o polegar. Os outros 112 pacientes, em contrapartida, apresentaram alguma forma de resposta física.

Todos os participantes foram submetidos a pelo menos um dos exames cerebrais: a ressonância magnética funcional (fMRI) e a eletroencefalografia (EEG), que utiliza uma touca flexível com eletrodos para medir diretamente os picos e vales de atividade elétrica no interior do órgão. 

Durante os exames, os pacientes foram instruídos a imaginar-se jogando tênis ou abrindo e fechando a mão. Esses comandos eram repetidos continuamente por 15 a 30 segundos, com seis a oito sessões de comando por paciente.

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Cerca de 25% dos pacientes que não apresentam respostas físicas aos testes tradicionais exibiram alguma atividade cerebral quando imaginam os movimentos. O desempenho do grupo que é capaz de reagir é melhor, mas nem tanto: 38% dos pacientes mostraram alguma atividade cerebral relevante.  

Esse fenômeno, conhecido como dissociação cognitiva motora, indica que essas pessoas podem ouvir e entender o que acontece ao redor, apesar de não conseguirem responder fisicamente.

Os testes mostraram que a dissociação é mais comum em três perfis de pacientes: os jovens, os que têm lesões causadas por traumas físicos e aqueles que estão internados há mais tempo.

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O que isso quer dizer?

Segundo o líder do estudo, Nicholas Schiff, neurologista da Weill Cornell Medicine, alguns pacientes teriam cérebros tão ativos que talvez pudessem se comunicar usando interfaces cérebro-computador (BCIs).

Esses aparelhos capturam e traduzem a intenção dos pacientes em comandos digitais. Em outras palavras, os pacientes controlariam o dispositivo com “a força da mente”. 

Uma outra pesquisa, publicada em 2019, chegou a conclusões parecidas. Jan Claassen, autor do artigo, revelou que em uma série de pacientes com lesões cerebrais agudas foi observada uma dissociação parecida: embora eles não exibissem respostas aos comandos motores, os registros de EEG mostraram evidências de ativação cerebral. 

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Embora Schiff não seja o primeiro a identificar a dissociação cognitiva motora em pessoas com lesões cerebrais que não respondem fisicamente, este é o maior estudo do tipo já realizado. Os testes ocorreram em seis instituições médicas de quatro países: Bélgica, França, Reino Unido e EUA.

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