A bússola de Einstein – e os 35 anos da Super
O movimento da agulha inspirou o físico a ir além do óbvio. É o que buscamos fazer aqui todos os dias, desde a primeira edição.
Quando Albert Einstein tinha 4 ou 5 anos seu pai lhe deu uma bússola. Ao manusear o objeto redondo e ver que alguma força aparentemente mágica fazia a agulha apontar sempre para a mesma direção, o menino teve um insight. “Algo profundamente escondido tinha de estar por trás das coisas”, escreveu o alemão em 1949, aos 70 anos.
Ao longo da vida, o maior físico da história descobriria muitas “coisas profundamente escondidas”: que a luz é feita de partículas (evento fundador da física quântica, e pelo qual ele recebeu seu Nobel, em 1921), que a matéria é feita de energia altamente concentrada, que a gravidade é causada por distorções no tecido do espaço – uma entidade invisível, etérea, mas que teima em manter nossos pés grudados ao chão. E talvez a revelação mais importante entre todas: a de que o tempo não existe, ao menos não como o conhecemos.
Passado, presente e futuro são meras ilusões, como o próprio Einstein já disse. O que existe, na real, são lugares numa versão ampliada do tecido do espaço, o “tecido espaço-tempo”.
O físico Brian Greene, grande divulgador de ciência, ajuda a explicar: “Não há fluxo. Os eventos, independentemente de quando ocorram, simplesmente existem. Todos existem. Eles ocupam para sempre o seu ponto particular no espaço-tempo. Se você estava se divertindo no réveillon, você ainda está lá, pois esta é uma das localizações imutáveis do espaço-tempo”.
O que entorta a mente, aí, é o seguinte: não é só tudo o que já aconteceu que está gravado para sempre. Vale o mesmo para aquilo que ainda não aconteceu. Eventos que parecem completamente indeterminados hoje, como o time que vai vencer a Copa do Catar, ou o dia do nascimento do seu primeiro bisneto, já estão de alguma forma impressos em algum lugar do tecido espaço-tempo – desde o momento do Big Bang.
Tudo isso mostra que não só o tempo é uma miragem persistente. Deixa claro que o próprio conceito de livre-arbítrio, um pilar fundamental da realidade, também é uma ilusão. Talvez a humanidade precise de mais 20 séculos de filosofia para ver se começa a compreender essa ideia – e provavelmente nem assim vai dar para assimilá-la. Mas o fato é que havia mesmo “alguma coisa profundamente escondida por trás das coisas”. E era muito mais do que o campo eletromagnético que move as bússolas.
Contei esta história aqui porque, neste mês de setembro, a Super completa 35 anos. E desde o primeiro dia nosso propósito é servir como uma bússola. Não exatamente uma bússola no sentido figurado mais convencional, o de algo que guia você. Mas uma bússola como aquela que inspirou Einstein: uma janela para o que há de mais profundo na existência. Veja melhor na compilação de algumas das capas mais memoráveis destas três décadas e meia – produzida pelo editor Bruno Garattoni, que há 15 anos é um dos cérebros mais importantes por trás da Super. Boa leitura. E siga aproveitando bem essa viagem pelo espaço-tempo que a gente chama de vida, porque ela passa rápido.