Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Oráculo

Por aquele cara de Delfos Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Ser supremo detentor de toda a sabedoria. Envie sua pergunta pelo inbox do Instagram ou para o e-mail maria.costa@abril.com.br.
Continua após publicidade

Por que nossa visão é restrita às cores entre o vermelho e o violeta?

Em resumo, porque esses são os comprimentos de onda eletromagnética que alcançam a superfície da Terra após a luz do Sol passar pelo filtro da atmosfera.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 12 set 2019, 20h47 - Publicado em 9 set 2019, 11h48

A resposta curta, para os apressados: a atmosfera da Terra é particularmente transparente às ondas eletromagnéticas cujos comprimentos se localizam entre as faixas infravermelha e ultravioleta do espectro. Ou seja, nós enxergamos o tipo de luz solar que chega à superfície da Terra – simplesmente porque esse é o tipo de luz que está lá para ser enxergada. A seleção natural não é capaz de estimular o nascimento de animais que enxerguem raios X se essa capacidade não for benéfica para a sobrevivência deles.

Mas este Oráculo dará um relato completo, pois está inspirado nesta manhã.

Era uma vez o Ediacarano, um pedacinho distante da história da Terra, que começou há 630 milhões de anos. Os primeiros animais – ou, para ser mais exato, os primeiros borrões gelatinosos multicelulares que lembram vagamente animais – datam dessa época.

O Ediacarano foi um prelúdio pacífico ao que entendemos por comportamento animal: caçar, buscar abrigo, ficar de tocaia, dar o bote e todo o resto que é exibido nos documentários do Discovery Channel não eram praticados (nem necessários) por lá. Quase não havia vida macroscópica na superfície, e os oceanos pululavam com os ancestrais das águas-vivas, esponjas e carambolas-do-mar.

Essas gosminhas simpáticas se alimentavam majoritariamente por absorção passiva de nutrientes e dependiam mais do sabor das ondas que da vontade própria para se deslocar. O Ediacarano era um mundo em suspensão – algo como a sensação úmida de boiar em uma piscina vazia à noite, ignorar o peso do próprio corpo e ouvir o gotejar da água.

Continua após a publicidade

Essa paz foi perturbada com a chegada do Cambriano. Um desses animais pode ter descoberto uma maneira nova de se nutrir: deglutir outro animal. Não existiam dentes, é claro, tampouco existiam bocas da maneira como entendemos hoje. O importante é que passou a existir o conceito de predação. E ele desencadeou uma corrida armamentista silenciosa – que acabou com a vibe contemplativa.

A seleção natural passou a favorecer a evolução de órgãos especializados na interação com o ambiente. Cascos e conchas, por exemplo, são uma resposta a ameaças do mundo exterior. Mas também havia a necessidade de ir além do alcance do corpo físico. De saber que algo está prestes a acontecer e ser capaz de evitá-lo.

Havia algumas possibilidades. O mundo está mergulhado em uma porção de coisas. Está mergulhado em radiação eletromagnética emitida pelo Sol – a luz. Está mergulhado em ondas mecânicas que se propagam pelo ar e pela água – o som. Está mergulhado em moléculas orgânicas voláteis com aneis aromáticos – os cheiros.

Continua após a publicidade

A radiação é refletida quando bate em um ser vivo, o que revela a posição desse ser vivo. Esse ser vivo se move, e ao se mover, faz as moléculas de água e ar em seu entorno vibrarem – isto é, faz barulho. Esse ser vivo exala moléculas orgânicas voláteis – isto é, cheiros. Visão, audição, olfato. A sensibilidade às pistas que os outros seres vivos deixam por aí permitia caçá-los e também escapar dos caçadores.  

A evolução dos olhos foi, como toda evolução que se preze, gradual: os primeiros órgãos fotossensíveis diziam apenas se estava claro ou escuro. As lentes biológicas demoraram muito para alcançar a resolução 4K com que você vê o mundo. Mas uma coisa não mudou de lá até aqui: nós só detectamos o tipo de luz cuja detecção é benéfica de alguma forma para nossa sobrevivência.

O que nos leva de volta à explicação lá do comecinho. Vale adicionar que a radiação no comprimento de rádio, bem mais longa, também tem uma penetração razoável na atmosfera da Terra. Mas ondas mais compridas têm energias baixas e não interagem com a matéria o suficiente para ter algum valor para a seleção natural.

É claro que outros animais são capazes de enxergar ultravioleta, e as cobras tem sensores infravermelhos para pegar o calor exalado por suas presas. A capacidade de “enxergar” esses comprimentos nasce de pressões evolutivas específicas à adaptação de cada espécie. Se a janela do ser humano é mais limitada que a de um pássaro, é porque para o estilo de vida do pássaro, por qualquer motivo, o ultravioleta é mais valioso. O triste é que nós nunca seremos capaz de saber de que cor são o infravermelho ou o ultravioleta.

Continua após a publicidade

Mas o bacana, mesmo, é a reflexão: a divisão entre plantas e animais é essencialmente uma divisão entre seres vivos que evoluíram recursos para viver em um lugar só e seres vivos que evoluíram recursos para viver em movimentos. Todas as diferenças entre eles – sistema nervoso centralizado, sentidos, cascos etc. derivam dessa distinção básica.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.