Quando surgiu a consciência na história da evolução humana?
É impossível determinar uma data: a evolução de qualquer traço biológico é um processo gradual, e a consciência não é algo monolítico: consiste em vários sistemas cerebrais interligados.
Não dá para precisar. A evolução de novas redes de neurônios não deixa fósseis, e todo traço que surge por seleção natural aparece gradualmente, sem saltos bruscos.
Sabemos que golfinhos, chimpanzés, polvos e certas aves exibem vários aspectos do que chamamos de consciência: eles se reconhecem no espelho, imaginam as intenções de outros animais (há passaros que mudam o lugar em que guardam alimento quando notam que foram vistos) e fazem planos para o futuro.
Por outro lado, as primeiras expressões artísticas do ser humano foram registradas há 70 mil anos, e é possível que a linguagem tenha evoluído mais ou menos na mesma época. Essas capacidades não têm paralelo em outras espécies, o que significa que o nosso grau particular de conscência é algo único e recente.
Um aspecto central da consciência, é claro, é a sensação de que existe um “eu”. Há casos, por exemplo, de pessoas com lesões cerebrais que se diziam cegas, mas conseguiam se desviar de obstáculos sem saber como. Elas haviam perdido o acesso consciente à visão, mas o cérebro ainda agia com base nos dados visuais sem consultar o dono.
É impossível saber em que grau outros animais têm essa experiência subjetiva de “ter um dono” na cabeça – ou se eles agem como os cegos do exemplo, respondendo automaticamente aos estímulos do ambiente.
Caso essa experiência exista – e os animais assistam ao mundo como nós, em um jogo de primeira pessoa –, o mistério só aumenta, porque não somos capazes de acessar o mundo pelos olhos deles.
Por exemplo: um morcego tem uma espécie de sexto sentido, a ecolocalização. Esse mamífero voador emite sons e calcula a que distância que um objeto está pelo tempo que o som demora para bater no objeto e voltar.
Como é ver o mundo usando o som, em vez da luz? Será que o morcego “vê” os sons? Talvez, a representação mental gerada pela ecolocalização não se pareça nem com a audição nem com a visão. Ela pode ser algo que sequer conseguimos imaginar, pois não possuímos esse sentido.
Esse problema filosófico antigo permanece fora do alcance da pesquisa empírica, e é conhecido simplesmente como “o problema difícil” pelos especialistas da área.
Pergunta de @maiolidaniel, via Instagram