Além do cinema: como circos, raves e até cultos estão funcionando
Com a pandemia, pessoas ao redor do mundo estão frequentando todo tipo de festa, espetáculo e exposição – tudo dentro do carro.
Ao falar em drive-in, a primeira coisa que vem à mente são as clássicas cenas de filmes em que o mocinho leva a protagonista para um encontro, dentro de seu carro, em algum cinema a céu aberto – como é o caso de Danny e Sandy em Grease, musical de 1978.
Esse tipo de local foi um sucesso nos Estados Unidos entre as décadas de 1950 e 1960, e ganhou espaço no Brasil por volta dos anos 1970. Com o passar do tempo, a popularidade acabou, e a maior parte desses estabelecimentos fechou. Mas, com a pandemia do novo coronavírus e as restrições impostas pelo Ministério da Saúde, foi preciso se reinventar: os drive-ins voltaram, indo além da simples exibição de cinema a céu aberto, possibilitando também festas, espetáculos, exposições de artes e cultos.
Circos
Na última sexta-feira (15), moradores de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, assistiram a um espetáculo da trupe Circo Fantástico de dentro de seus carros. O evento contou com malabaristas, dançarinos, mágicos – o pacote completo. A diferença é que o picadeiro perdeu sua arquibancada e deu lugar a 22 boxes de carros, que podiam ter até quatro pessoas em seu interior (todas deveriam estar usando máscara).
Para comprar pipoca, algodão-doce e refrigerante, era preciso chamar o vendedor até o carro, que usava máscara e oferecia álcool em gel para o comprador. Para ir ao banheiro, bastava ligar o pisca-alerta: o funcionário ia até a pessoa para acompanhá-la – e higienizar tanto as maçanetas do carro quanto as do banheiro. O espetáculo cobrou entrada de 50 reais por carro.
O espetáculo agradou o público, que aplaudiu – ou melhor, buzinou para os artistas. A apresentação, que ocorreu dentro de um estacionamento foi um piloto, mas a prefeitura já autorizou novos shows, que devem ocorrer de forma semanal.
Exposições de arte
Em Toronto, no Canadá, amantes da arte terão a chance de entrar (de carro) nas obras de Vincent Van Gogh. A exposição já estava marcada para acontecer, mas teve que se adaptar devido a pandemia. Agora, ficará dentro de um armazém de 370 metros quadrados dominado por instalações de som e luz, que devem contar a vida do artista numa exibição de 35 minutos.
O drive-in no armazém funcionará como uma prévia do que deveria ser a exposição no Toronto Star, um edifício de cinco andares. Ela funcionará do dia 18 a 28 de junho, recebendo 14 veículos por dia. O sucesso foi tanto que as entradas quase esgotaram, restando apenas algumas para horários da madrugada. Os preços estão entre entre 45 e 100 dólares canadenses (R$ 180 a R$ 400), e dão direito a uma entrada para a exibição original, que está programada para ocorrer entre julho e setembro.
Raves
Na Alemanha, alguns clubes adaptaram o drive-in para fazer a primeira rave nesse estilo do mundo. Pois é: foram três festas no Club Index, na cidade de Schüttorf, que aconteceram de 30 de abril a 2 de maio. Ao total, foram 250 carros, com duas pessoas em cada, em frente a um enorme palco com sistema de som completo e equipamentos de iluminação. Confira o vídeo, feito por um dos DJs:
E, pelo visto, a moda pegou. O World Club Dome, outro clube alemão, também organizou duas noites de festa com mil convidados em cada uma. As janelas ficaram fechadas durante todo o evento e a música era transmitida por uma frequência de rádio – aos ocupantes dos veículos, bastou apenas sintonizar. Buzinas e enfeites luminosos completaram o “rolê”.
Cultos
A história de cultos por drive-in começou nos Estados Unidos – e bem antes da pandemia de Covid-19. Na década de 1950, o reverendo Robert Schuller adotou o formato para suas pregações em Garden Grove, na Califórnia. Desde então, algumas igrejas passaram a adotar o método, que ganhou ainda mais força esse ano, poucos meses antes da Páscoa.
Para seguir com os cultos, os fiéis ficam dentro de seus carros e sintonizavam a rádio na frequência indicada. Uma paróquia americana juntou cerca de 600 pessoas, divididas em 300 carros – o que representa 40% dos participantes semanais.
No Brasil, uma das missas drive-ins ocorreu no Dia das Mães, em uma capela a quatro quilômetros da cidade de Olímpia (SP). Participaram cerca de 400 pessoas divididas em 100 carros. Todas tinham que usar máscara – e, mesmo assim, foram proibidas de sair do carro.
Os participantes fizeram um cadastro prévio para participar da celebração. Na hora de entregar a hóstia, atividade característica das missas católicas, o grupo de apoio formado por pessoas fora do grupo de risco passava pelos carros e as entregava ao fiel, que deveria receber com uma mão e tirar a máscara com a outra.
Outra missa dessa mesma paróquia deve ocorrer em 11 de junho, na celebração de Corpus Christi. Mato Grosso do Sul, Bahia e Distrito Federal também tiveram missas nesse formato.
Cinemas
É natural que os cinemas drive-in, que começaram tudo isso, também voltassem. Nesse modelo, os visitantes ficam dentro de seus carros e sintonizam o rádio na frequência indicada, que transmite o áudio do filme.
No Brasil, o único que sobreviveu ao tempo é o Cine Drive-in, no Distrito Federal. Ironicamente, ele estava fechado devido a pandemia, mas reabriu na última semana de abril e já teve uma alta de 325% em sua receita.
Agora, outras empresas investem no modelo. A Dream Factory, produtora responsável pelo Carnaval do Rio, quer levar o drive-in para oito capitais do país a partir de julho. A ideia é usar espaços de dez mil metros para reunir de 150 a 200 carros. A empresa não pretende ficar apenas no cinema, mas trazer também shows, palestras e espetáculos teatrais. Para tirar o projeto do papel, ela aguarda o aval das prefeituras.
Quem também segue essa linha, procurando trazer variedade cultural, é o Allianz Parque, estádio do Palmeiras. Eles pretendem lançar o “Arena Sessions”, em que os convidados poderão acompanhar o evento dentro de seus carros em frente a uma tela de LED de alta definição. Os preços devem variar entre R$ 95 e R$ 150. O estádio deve anunciar as exibições assim que a licença para operar esse serviço for liberada.
Para os moradores do litoral paulista, a Cinesystem também inaugurou um sistema de cinema drive-in no início de maio, na Praia Grande. As sessões são diárias e o espaço aloca até 60 carros. A melhor parte é que os preços são bem acessíveis, entre R$ 15 e R$ 20; além disso, todo a receita gerada será revertida para o Fundo Social de Solidariedade da cidade.