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Além do cinema: como circos, raves e até cultos estão funcionando

Com a pandemia, pessoas ao redor do mundo estão frequentando todo tipo de festa, espetáculo e exposição – tudo dentro do carro.

Por Carolina Fioratti
Atualizado em 26 out 2020, 08h30 - Publicado em 21 Maio 2020, 17h57

Ao falar em drive-in, a primeira coisa que vem à mente são as clássicas cenas de filmes em que o mocinho leva a protagonista para um encontro, dentro de seu carro, em algum cinema a céu aberto – como é o caso de Danny e Sandy em Grease, musical de 1978.

Esse tipo de local foi um sucesso nos Estados Unidos entre as décadas de 1950 e 1960, e ganhou espaço no Brasil por volta dos anos 1970. Com o passar do tempo, a popularidade acabou, e a maior parte desses estabelecimentos fechou. Mas, com a pandemia do novo coronavírus e as restrições impostas pelo Ministério da Saúde, foi preciso se reinventar: os drive-ins voltaram, indo além da simples exibição de cinema a céu aberto, possibilitando também festas, espetáculos, exposições de artes e cultos. 

Circos

Na última sexta-feira (15), moradores de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, assistiram a um espetáculo da trupe Circo Fantástico de dentro de seus carros. O evento contou com malabaristas, dançarinos, mágicos – o pacote completo. A diferença é que o picadeiro perdeu sua arquibancada e deu lugar a 22 boxes de carros, que podiam ter até quatro pessoas em seu interior (todas deveriam estar usando máscara).

Para comprar pipoca, algodão-doce e refrigerante, era preciso chamar o vendedor até o carro, que usava máscara e oferecia álcool em gel para o comprador. Para ir ao banheiro, bastava ligar o pisca-alerta: o funcionário ia até a pessoa para acompanhá-la – e higienizar tanto as maçanetas do carro quanto as do banheiro. O espetáculo cobrou entrada de 50 reais por carro.

O espetáculo agradou o público, que aplaudiu – ou melhor, buzinou para os artistas. A apresentação, que ocorreu dentro de um estacionamento foi um piloto, mas a prefeitura já autorizou novos shows, que devem ocorrer de forma semanal.

Exposições de arte

Em Toronto, no Canadá, amantes da arte terão a chance de entrar (de carro) nas obras de Vincent Van Gogh. A exposição já estava marcada para acontecer, mas teve que se adaptar devido a pandemia. Agora, ficará dentro de um armazém de 370 metros quadrados dominado por instalações de som e luz, que devem contar a vida do artista numa exibição de 35 minutos. 

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How will you join us? Drive or Walk or Both? 🚗🌻 🚶‍♀‍ ON SALE NOW! ☝️LINK IN BIO☝️️ Experience the world's first Drive-In Art Exhibit! June 18th-28th Our Immersive Van Gogh Exhibit will be offering a special preview tour of the exhibit for patrons who can come in their cars! You will drive up the ramp at the Toronto Star building, drive into our gallery, park, turn off your engine and view 35 minutes of the exhibit from your car. With these Drive In Preview tickets you will also be able to return at a later date for the Walk Thru experience which starts July 1st. #VanGoghTO #VanGogh #Toronto #DriveIn #1YongeSt

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O drive-in no armazém funcionará como uma prévia do que deveria ser a exposição no Toronto Star, um edifício de cinco andares. Ela funcionará do dia 18 a 28 de junho, recebendo 14 veículos por dia. O sucesso foi tanto que as entradas quase esgotaram, restando apenas algumas para horários da madrugada. Os preços estão entre entre 45 e 100 dólares canadenses (R$ 180 a R$ 400), e dão direito a uma entrada para a exibição original, que está programada para ocorrer entre julho e setembro.

Raves

Na Alemanha, alguns clubes adaptaram o drive-in para fazer a primeira rave nesse estilo do mundo. Pois é: foram três festas no Club Index, na cidade de Schüttorf, que aconteceram de 30 de abril a 2 de maio. Ao total, foram 250 carros, com duas pessoas em cada, em frente a um enorme palco com sistema de som completo e equipamentos de iluminação. Confira o vídeo, feito por um dos DJs:

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Played at the Autodisco party of Club Index yesterday, such a fun experience! 🤣 HIT YOUR HORN 📣📣📣

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E, pelo visto, a moda pegou. O World Club Dome, outro clube alemão, também organizou duas noites de festa com mil convidados em cada uma. As janelas ficaram fechadas durante todo o evento e a música era transmitida por uma frequência de rádio – aos ocupantes dos veículos, bastou apenas sintonizar. Buzinas e enfeites luminosos completaram o “rolê”. 

Cultos

A história de cultos por drive-in começou nos Estados Unidos – e bem antes da pandemia de Covid-19. Na década de 1950, o reverendo Robert Schuller adotou o formato para suas pregações em Garden Grove, na Califórnia. Desde então, algumas igrejas passaram a adotar o método, que ganhou ainda mais força esse ano, poucos meses antes da Páscoa. 

Para seguir com os cultos, os fiéis ficam dentro de seus carros e sintonizavam a rádio na frequência indicada. Uma paróquia americana juntou cerca de 600 pessoas, divididas em 300 carros – o que representa 40% dos participantes semanais. 

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(Portland Press Herald/Getty Images)
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No Brasil, uma das missas drive-ins ocorreu no Dia das Mães, em uma capela a quatro quilômetros da cidade de Olímpia (SP). Participaram cerca de 400 pessoas divididas em 100 carros. Todas tinham que usar máscara – e, mesmo assim, foram proibidas de sair do carro.

Os participantes fizeram um cadastro prévio para participar da celebração. Na hora de entregar a hóstia, atividade característica das missas católicas, o grupo de apoio formado por pessoas fora do grupo de risco passava pelos carros e as entregava ao fiel, que deveria receber com uma mão e tirar a máscara com a outra. 

Outra missa dessa mesma paróquia deve ocorrer em 11 de junho, na celebração de Corpus Christi. Mato Grosso do Sul, Bahia e Distrito Federal também tiveram missas nesse formato. 

Cinemas

É natural que os cinemas drive-in, que começaram tudo isso, também voltassem. Nesse modelo, os visitantes ficam dentro de seus carros e sintonizam o rádio na frequência indicada, que transmite o áudio do filme. 

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No Brasil, o único que sobreviveu ao tempo é o Cine Drive-in, no Distrito Federal. Ironicamente, ele estava fechado devido a pandemia, mas reabriu na última semana de abril e já teve uma alta de 325% em sua receita. 

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(Divulgação/Facebook)

Agora, outras empresas investem no modelo. A Dream Factory, produtora responsável pelo Carnaval do Rio, quer levar o drive-in para oito capitais do país a partir de julho. A ideia é usar espaços de dez mil metros para reunir de 150 a 200 carros. A empresa não pretende ficar apenas no cinema, mas trazer também shows, palestras e espetáculos teatrais. Para tirar o projeto do papel, ela aguarda o aval das prefeituras. 

Quem também segue essa linha, procurando trazer variedade cultural, é o Allianz Parque, estádio do Palmeiras. Eles pretendem lançar o “Arena Sessions”, em que os convidados poderão acompanhar o evento dentro de seus carros em frente a uma tela de LED de alta definição. Os preços devem variar entre R$ 95 e R$ 150. O estádio deve anunciar as exibições assim que a licença para operar esse serviço for liberada.

Para os moradores do litoral paulista, a Cinesystem também inaugurou um sistema de cinema drive-in no início de maio, na Praia Grande. As sessões são diárias e o espaço aloca até 60 carros. A melhor parte é que os preços são bem acessíveis, entre R$ 15 e R$ 20; além disso, todo a receita gerada será revertida para o Fundo Social de Solidariedade da cidade.

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