O que é o gambito da rainha? Entenda o lance de xadrez que batiza a série
Você pode até jogar contra Beth Harmon depois: o site Chess.com programou uma IA para simular o estilo de jogo da personagem.
O Gambito da Rainha é a minissérie mais popular da história da Netflix. Mas o quê, afinal, é um gambito?
Em certas regiões do Brasil, “gambito” (ou “cambito”) é sinônimo de pernas finas. A etimologia é simples: vem do italiano gambetta, que é o diminutivo de gamba – em português, “perna”. Ou seja: ao pé da letra, “gambito” é um jeito de dizer “perninha”.
A origem etimológica do tal gambito usado pela personagem Beth Harmon na série é exatamente a mesma: gambetto, com “o” em vez de “a”, significa “rasteira”. Tudo a ver com pernas.
Quem leva a rasteira? O adversário, claro. O gambito da rainha (na verdade, da “dama”, não se usa a tradução “rainha” normalmente entre enxadristas) é um jeito de começar um jogo de xadrez – no jargão dos enxadristas, uma abertura – em que você sacrifica uma peça para tirar vantagem disso depois. Sacrificar a peça, claro, significa que seu oponente precisa colaborar e capturar a peça para você.
Se o adversário cair no truque, temos um gambito da dama aceito. Se ele não cair, temos um gambito da dama recusado. Entre jogadores profissionais, é claro, cair ou não no gambito é uma escolha. Ninguém realmente é pego de surpresa.
Se você é um amador, recusar é a alternativa mais segura. Mas monstros sagrados do xadrez sabem se aproveitar das duas possibilidades, e podem aceitar o gambito para organizar sua defesa de uma maneira diferente, que tire vantagem disso. É bem difícil jogar com as pretas depois de aceitar o gambito.
A peça sacrificada não é a dama, veja bem: ninguém é maluco de sacrificar uma dama. Sua liberdade de movimento no tabuleiro a torna a peça mais valiosa depois do rei. O nome da jogada vem do fato de que o primeiro peão movido é o que fica na frente da dama.
Escrevendo é difícil. É mais fácil entender com uma imagem. Dá uma olhada em como fica o tabuleiro após três jogadas – são sempre as peças brancas que começam. Vamos relembrar as regras antes de analisar o tabuleiro: os peões, partindo de sua posição inicial, podem avançar uma ou duas casas, sempre para frente. Mas só capturam peças na diagonal.
O sacrifício, aqui, é do peão branco da esquerda, que sai da frente do bispo (na coluna C). Ele é um alvo fácil para o peão preto que já avançou. Se o peão preto aceitar o gambito e comer o peão branco, as brancas ficam na vantagem imediatamente.
O motivo é o seguinte: agora, as brancas podem avançar o peão do rei (na coluna E) para ficar lado a lado com o peão da rainha (na coluna D) no centro do tabuleiro, dominando a área sem ameaça nenhuma. E ao mover o peão do rei, as brancas abrem espaço para o bispo branco (na coluna F) dar fim no peão preto que aceitou o gambito em primeiro lugar. De novo, é mais fácil observar uma sequência de tabuleiros do que entender a descrição:
No site Chess.com, você pode se cadastrar e jogar uma partida contra um computador que imita Beth Harmon, a personagem da série, em diferentes idades: dos nove anos, quando ela aprende a jogar com o zelador no porão do orfanato, aos 22, quando ela encara o mestre soviético Borgov. Mas cuidado: atacar a rainha do gambito com um gambito pode não ser uma boa ideia.