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Quem é o Gregório dos “cantos gregorianos”?

Ele não era exatamente um grande artista, mas ajudou as músicas católicas a não flopar nos charts.

Por Victor Bianchin
6 nov 2025, 10h00

A presença do canto na celebração da liturgia cristã é antiga: o apóstolo Mateus até mesmo disse que, após a Santa Ceia, Jesus e os apóstolos “tendo cantado o hino, saíram para o Monte das Oliveiras”. A salmodia (palavra que descreve o ato de cantar salmos) cristã provavelmente tem origem na salmodia judaica, que a precede, embora alguns estudiosos afirmem que esses primeiros hinos cristãos não usavam os salmos como letras.

De qualquer forma, o importante é que, desde a época de Jesus, seus adeptos já cantavam músicas na hora da liturgia. Mais tarde, no século 4, um episódio foi importante para o cancioneiro católico: quando Santo Antônio, o Grande, foi para o deserto viver como eremita. Ele foi seguido por monges, que tinham o costume de cantar todos os 150 salmos da Bíblia ao longo de uma semana inteira, como forma de oração e disciplina espiritual.

Essa cantoria acabou gerando a Liturgia das Horas (também chamada Ofício Divino), um conjunto de orações oficiais da Igreja Católica, e também de outras tradições cristãs, feitas em horários fixos ao longo do dia. Além de preces tradicionais, ela inclui salmodias e antífonas (melodias cantadas antes da recitação de um salmo). 

Com o tempo, as salmodias e as antífonas se tornaram hábitos comuns na prática cristã e passaram a ser frequentes nas missas do Ocidente. Essas músicas já eram cantos gregorianos incipientes, embora ainda não tivessem esse nome. No século 6, a primeira escola de canto foi fundada em Roma, a Schola Cantorum.

É aí que entra o Gregório da história – no caso, o Papa Gregório I (papado: 590-604). Nessa época, havia diversas tradições de canto da Igreja Católica, cada uma vinda de uma parte do mundo: o canto moçárabe da Espanha dominada pelos muçulmanos, o canto visigótico da Península Ibérica sob domínio do Reino Visigodo, o canto ambrosiano do norte da Itália e por aí vai.

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Um grande amante da música, Gregório I desejava organizar esses diversos costumes e unificá-los em uma única tradição de canto reconhecível em todos os lugares. Ele reuniu os cânticos, definiu seus lugares no ciclo litúrgico e instituiu o repertório a ser ensinado na Schola Cantorum. Há até quem diga que ele compôs algumas melodias, embora pesquisadores afirmem que isso não pode ser provado.

É importante dizer que, na época de Gregório I, não existia ainda a notação musical, o que tornava muito difícil definir “músicas” propriamente ditas. Inclusive, o conteúdo melódico que hoje conhecemos como canto gregoriano simplesmente não existia na época de Gregório I.

O canto gregoriano como conhecemos se desenvolveu séculos depois — principalmente nos séculos 9 e 10, com influência carolíngia. A grande mudança só aconteceu no século 11, com o monge Guido de Arezzo (992-1050), criador da notação musical moderna. Os estudiosos concordam que foi graças às suas contribuições que o canto gregoriano de fato nasceu.

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As mudanças introduzidas pelo sistema de Arezzo na notação do canto plano foram tão significativas que acabaram levando a uma nova forma de canto, batizada em homenagem a Gregório I. A imagem do religioso como patrono dessa arte acabou sendo muito difundida, assim como a crença (errônea) de que ele “inventou” os cantos.

O canto gregoriano é um estilo musical monofônico, o que significa que há apenas uma linha melódica. Ou seja: todos os cantores seguem a mesma melodia em uníssono. É diferente da música pop atual, por exemplo, em que existem várias linhas melódicas e harmonias tocando ao mesmo tempo, com instrumentos e vozes independentes que se combinam para criar acordes e texturas mais complexas.

Inclusive, você pode ser um cantor gregoriano sem nem mesmo saber. Sabe quando o padre diz “O Senhor esteja convosco” e os fiéis respondem “Ele está no meio de nós”? Pois então, essa resposta conjunta e monofônica é canto gregoriano. Em versão tiny desk, talvez!

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