Vacina contra o HPV protege até mulheres não-vacinadas, revela estudo
Experimento em cidade nos EUA mostra que imunidade de rebanho combate o vírus, reduzindo a incidência da doença que pode causar câncer de colo de útero.

Depois que uma cidade americana começou sua campanha de vacinação contra o HPV, as taxas de infecção caíram mais de 90% entre as mulheres vacinadas. Mas não só: por causa da menor circulação do vírus, a incidência da doença também caiu mais de 70% entre quem não foi imunizado, revelou um novo estudo.
Os dados ajudam a reforçar a importância da vacina como uma arma da saúde pública para combater o câncer de colo de útero, causado pelo vírus. O artigo foi publicado no periódico JAMA Pediatrics.
O HPV (vírus do papiloma humano) é uma infecção sexualmente transmissível (IST) bastante comum, que pode se manifestar como uma simples verruga na pele e mucosas. O vírus, porém, também pode causar lesões que resultam em câncer no colo de útero, além de câncer no pênis, ânus e outros tipos. Calcula-se que a maioria das pessoas sexualmente ativas terão ou já tiveram contato com o vírus, embora, muitas vezes, a infecção possa permanecer totalmente assintomática.
O câncer de colo de útero, também chamado de câncer cervical, é o quarto mais comum entre mulheres; quase todos os casos são decorrentes da infecção por HPV. Todos os anos, 660 mil pacientes são diagnosticadas com a doença no mundo, segundo a OMS. No Brasil, são 17 mil novos casos e sete mil óbitos por ano, de acordo com o Ministério da Saúde.
Sabe-se que a vacina contra o HPV é segura e efetiva porque ela foi testada em ensaios clínicos antes de sua aprovação. O que o novo estudo fez foi analisar, na prática, seu impacto em uma comunidade específica.
Os cientistas da Faculdade de Medicina Albert Einstein, de Nova York, estudaram os dados de mulheres que vivem na cidade de Cincinnati, incluindo adolescentes e jovens adultas. No total, participaram mais de 2.335 voluntárias, num período que vai de 2006 até 2023. Como a cidade começou sua campanha de vacinação justamente em 2006, eles puderam analisar o impacto do imunizante ao longo do tempo.
Ao longo do período de estudo de 17 anos, as taxas de vacinação contra o HPV aumentaram de 0% para 82%. À medida que a cobertura vacinal aumentou, as taxas de infecção por HPV caíram drasticamente entre as participantes vacinadas.
Por exemplo: entre quem recebeu pelo menos uma dose da vacina bivalente (que protege contra dois subtipos do vírus), os casos caíram quase 99%. Já no grupo da vacina quadrivalente (contra quatro subtipos) os casos caíram 94%.
Mas não só: a melhora também foi vista entre mulheres que nunca se vacinaram; neste grupo, os casos de HPV caíram 75%. “Vimos evidências claras de ‘imunidade de rebanho’ – ou seja, quando um número suficiente de pessoas é vacinado, a vacina protege indiretamente as pessoas não vacinadas, porque reduz a transmissão geral do vírus”, explica Jessica Kahn, uma das autoras do estudo. “Esses resultados reforçam o potencial da vacina contra o HPV para prevenir a infecção e, em último caso, eliminar o câncer de colo de útero globalmente.”
Kahn lembra, porém, que o alto grau de imunidade de rebanho provavelmente só foi possível graças às altas taxas de vacinação e à vacinação de meninos também, que reduziram com sucesso a circulação do vírus.
“Ao expandir a aceitação desta vacina altamente segura e eficaz e garantir o acesso à triagem e ao tratamento, podemos alcançar uma das maiores vitórias de saúde pública do nosso tempo: a eliminação do câncer de colo de útero em todo o mundo”, analisa ela.
Em fevereiro, outro estudo mostrou que a vacina contra o HPV zerou os casos desse câncer na Escócia entre mulheres que foram imunizadas na idade recomendada.