A Antártida já perde 6 vezes mais gelo do que em 1979
Um novo estudo sugere que a região leste do continente é mais vulnerável do que se pensava — o que pode agravar o aumento do nível do mar neste século.
Para a maioria das pessoas, a Antártida é tida quase como um território alienígena na Terra. Muitos a imaginam como um gigantesco bloco de gelo uniforme no extremo sul do planeta, e os mais desavisados podem até pensar que as congelantes temperaturas polares vão minimizar os efeitos do aquecimento global no ecossistema antártico. Mas o continente gelado parece estar ainda mais suscetível às mudanças climáticas do que os cientistas esperavam — e isso pode trazer consequências graves no mundo todo.
De acordo com uma nova pesquisa publicada nesta segunda (14) no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences, o gelo da porção leste da Antártida também estaria derretendo em um ritmo acelerado. Até então, cientistas climáticos e glaciólogos acreditavam que, ao menos por enquanto, a região estivesse protegida dessa preocupante taxa de derretimento, e que apenas a parte ocidental concentrasse o problema. Isso porque a base dessas geleiras ficam abaixo do nível do mar, onde profundas correntes de água quente estão “escavando” o gelo e comprometendo a estrutura interna.
Mas alguns cientistas temem que, mesmo sem a base submersa, a proteção das geleiras orientais estejam com os dias contados. Mudanças no clima estão alterando as correntes de vento na Antártida, e se torna mais concreta a possibilidade de que essas águas mais aquecidas circundem o continente — e invadam também o lado leste. “Se o artigo estiver certo, muda totalmente as regras do jogo para o aumento do nível do mar neste século”, disse à Science o cientista climático Michael Oppenheimer, da Universidade de Princeton.
Calcula-se que o derretimento do gelo na Antártida já tenha provocado um aumento de pelo menos 13,8 milímetros no nível do mar ao longo das últimas quatro décadas. E se as geleiras orientais passarem a derreter tão depressa quanto as vizinhas ocidentais, a situação pode escalar e rapidamente sair do controle, já que elas contêm dez vezes mais gelo que as do oeste. O estudo revelou que o continente antártico como um todo perde hoje seis vezes mais gelo para o mar do que perdia em 1979.
A técnica utilizada consistiu substancialmente de uma análise minuciosa de 40 anos de imagens de satélite. Os pesquisadores utilizaram modelos para estimar a quantidade anual de neve que se acumulou nas geleiras, e então calcularam quanto de gelo escapava para o mar a cada ano, através de um monitoramento visual da velocidade dos pedaços que boiavam. Subtraindo o gelo adicionado do gelo perdido, foi possível descobrir quanto exatamente se ganhou ou se perdeu de gelo a cada ano, entre 1979 e 2017.
Conforme a temperatura sobe no resto do planeta, espera-se que as diferenças de pressão atmosférica intensifiquem ainda mais os ventos polares, agravando o quadro de intrusão das águas quentes no leste. Ainda haverá debate entre os especialistas sobre o método utilizado que, ao contrário de estudos anteriores, envolve sobretudo imagens de satélite. Mas todos concordam que a pesquisa chama atenção para a necessidade de monitorar melhor essa porção até então pouco estudada do continente — para o nosso próprio bem.