Apollo 13: a tragédia transformada em triunfo
Uma decolagem livre de problemas, um translado que beirou o entendiante... E então: "Houston, we've had a problem here".
Ninguém envolvido com as missões Apollo se iludia quanto aos riscos. A Apollo 7 decolou com ventos desfavoráveis; se houvesse necessidade de abortar a missão durante a decolagem, a cápsula poderia ir parar em terra, em vez de no mar, ameaçando a sobrevivência da tripulação.
A Apollo 8 arriscou uma viagem jamais realizada antes. A Apollo 10 quase perdeu o módulo lunar, com astronautas dentro, na manobra de reencontro com o módulo de comando. A Apollo 11 realizou uma alunissagem com pouco combustível, alarmes falsos do computador e uma manobra manual para escapar de uma cratera.
A Apollo 12 decolou na chuva e tomou dois raios, que os engenheiros temiam ter danificado o sistema de acionamento dos paraquedas; tivesse sido esse o caso, os astronautas estariam condenados à morte no retorno. Em cada uma dessas ocasiões, uma tragédia em potencial. E, no entanto, nada aconteceu. Uma falsa impressão de segurança foi surgindo.
Quando chegou a hora de lançar a Apollo 13, a confiança da agência era total. Seria a primeira missão realmente dedicada à ciência, visitando um local de alto interesse dos estudiosos da Lua: a formação Fra Mauro, onde se esperava encontrar rochas ejetadas pelo impacto violento que formou a bacia do Mare Imbrium. O emblema da missão trazia os dizeres “Ex Luna, Scientia” (“da Lua, conhecimento”, em latim).
Foram escalados James A. Lovell, em seu quarto e último voo, e dois novatos, T. Kenneth Mattingly II e Fred W. Haise Jr. Apenas três dias antes da decolagem, Mattingly foi diagnosticado com suspeita de rubéola e sacado da tripulação. Voaria o reserva para a posição, John L. “Jack” Swigert.
O voo partiu em 11 de abril de 1970, numa decolagem livre de problemas, e os dois primeiros dias foram de absoluta tranquilidade. Os responsáveis pelo controle da missão estavam francamente entediado.
As viagens à Lua começavam a virar rotina, e o público já não dava mais tanta atenção ao percurso após o lançamento – as transmissões feitas pelos astronautas a caminho da Lua nem iam mais ao ar ao vivo na televisão.
Pouco depois de uma delas, no terceiro dia de viagem, a 322 mil km da Terra, a tripulação executava um procedimento de rotina nos tanques do módulo de serviço quando se ouviu um estampido forte, seguido por uma explosão. Uma falha grave de equipamento havia acontecido.
Swigert foi o primeiro a mandar no rádio um “Ok, Houston, tivemos um problema aqui”, que o capcom (responsável pela comunicação no centro de controle) teve de pedir para repetir.
Era mesmo um problemão. O módulo de comando Odyssey perdeu todo o oxigênio de reserva para o espaço. O pouso na Lua teve de ser abortado, e o lema da missão deixou de ser ciência para virar sobrevivência.
A decisão foi desativar o Odyssey, preservando a pouca eletricidade que tinha para a futura reentrada na atmosfera, usando o módulo lunar Aquarius como um bote salva-vidas. Originalmente projetado para abrigar dois astronautas durante o pouso na Lua, ele passou a ser ocupado por três, que tiveram de racionar eletricidade, oxigênio e água.
As temperaturas em seu interior chegaram a ficar tão baixas quanto 4 °C, e a tripulação ainda foi obrigada a improvisar um sistema para literalmente encaixar um quadrado num círculo, já que os suprimentos de hidróxido de lítio usados para tirar o dióxido de carbono da cabine do módulo lunar eram insuficientes para a viagem toda, e os do módulo de comando vinham em invólucros num formato diferente do que se encaixava na outra nave.
Usando o motor de descida do Aquarius, a Apollo 13 foi colocada numa trajetória de retorno livre – ela passaria por trás da Lua e voltaria à Terra, para uma reentrada no Oceano Pacífico.
A Apollo 13 foi a nave tripulada que até hoje voou mais longe do nosso planeta, 400.171 km. (Na Apollo 10, os astronautas chegaram a ficar mais longe que isso de Houston, por conta da rotação da Terra, mas nunca estiveram tão afastados assim do próprio planeta.) A missão passou cerca de 140 km mais longe da superfície lunar do que uma órbita típica de uma missão de pouso, e ainda perto do ponto em que a Lua estava mais afastada da Terra.
Após dias de apreensão e trabalho duro, o módulo de comando se separou do módulo de serviço avariado para o retorno. Os astronautas fotografaram os danos causados pela explosão, pouco antes de reentrarem na atmosfera. Os paraquedas funcionaram e a cápsula desceu no Pacífico em 17 de abril de 1970. Poderia ter sido uma grande tragédia. Mas acabou sendo um grande triunfo. A Apollo 13 retornava sã e salva da mais perigosa viagem já realizada até a Lua.