Como os neandertais cozinhavam? Cientistas recriam refeição pré-histórica
Pesquisadores preparam e cozinharam cinco pássaros do jeito que os neandertais faziam para entender as marcas que a culinária deixa nos registros arqueológicos.
Cozinhar é um sinal de complexidade de comportamento entre os hominídeos. Os neandertais, por exemplo, também cozinhavam – mas, com nossos dados arqueológicos limitados, é difícil saber o quê e como.
Agora, um novo estudo tentou entender como esses hominídeos pré-históricos cozinhavam pássaros – e como seriam os restos arqueológicos que a culinária deles deixaria para trás. O artigo, que mistura arqueologia com a preparação dos possíveis pratos neandertais, foi publicado na revista Frontiers in Environmental Archaeology.
Entender a dieta dos neandertais é importante para ter uma ideia de como esses hominídeos se adaptavam e sobreviviam em diferentes ambientes. Eles usavam flocos de pedra afiados com bastante precisão e esforço – caso contrário, podiam perder um dedo – para matar e preparar os pássaros.
Culinária neandertal
Os cientistas se dedicaram a criar uma base experimental usando métodos de cozinhar e matar os pássaros que os neandertais podem ter usado, para assim entender melhor as marcas que isso pode deixar em registros fósseis. Com isso, a ciência saberá exatamente o que procurar em sítios arqueológicos reais.
Cinco pássaros selvagens que morreram de causas naturais foram coletados pelos pesquisadores na região de Gouveia, em Portugal. Duas gralhas-pretas, duas rolas-turcas e um pombo-torcaz, espécies similares às que os neandertais comiam, foram preparadas usando métodos culinários reconstruídos a partir de evidências arqueológicas e dados etnográficos coletados ao redor do mundo.
Todos os pássaros foram depenados a mão. Uma das gralhas e uma das rolas-turcas foram destroçadas cruas, enquanto os outros três espécimes foram assados em cima de carvão quente e despedaçados só depois de cozidos, o que foi muito mais fácil para os cientistas do que tentar desossar as aves cruas.
Cozinhar os pássaros depenados no carvão foi mais rápido do que os cientistas imaginavam, durando menos de dez minutos. A preparação da refeição pré-histórica demorou mais tempo do que o cozimento em si.
Cicatrizes culinárias
Os ossos dos pássaros foram limpos e secos. Depois disso, foram analisados microscopicamente para ver marcas, machucados e queimaduras que o processo culinário deixou para trás. Os cortes para tirar carne dos pássaros crus não deixaram marcas, mas os golpes nos tendões deixaram manchas parecidas com as encontradas em pássaros em sítios arqueológicos.
Já os pássaros que foram assados ficaram com ossos bem mais frágeis, alguns quebrando além de qualquer capacidade de recuperação. Quase todos ficaram com queimaduras, e algumas manchas pretas dentro dos ossos sugerem que os conteúdos da cavidade interna também foram queimados.
Assar os pássaros deixava mais fácil de arrancar a carne para os neandertais, e mais difícil para nós encontrarmos isso nos registros arqueológicos milhares de anos depois. Em estudos futuros, os pesquisadores sugerem expandir as espécies de animais analisados.