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Lobos criados por humanos não entendem as pessoas tão bem quanto os cães, indica estudo

Pesquisadores compararam filhotes de cachorro e de lobo em testes e desafios. Os cães foram 30 vezes mais propensos a se aproximar de um humano desconhecido, confirmando uma hipótese evolutiva.

Por Luisa Costa
Atualizado em 13 jul 2021, 19h12 - Publicado em 13 jul 2021, 19h02

Não é por acaso que o cão é conhecido como o melhor amigo do homem. Se você tem um companheiro de quatro patas, provavelmente sente que ele te entende apenas com um olhar (ou alguns poucos gestos). Essa aptidão dos cães para se comunicar e interagir conosco remete ao passado evolutivo do animal – e um estudo acaba de oferecer as maiores evidências para isso até agora.

A teoria que o estudo buscou confirmar é de que as habilidades que permitem aos cães entenderem gestos humanos – o que nós sentimos e queremos dizer em algumas situações – vem do processo milenar de domesticação.

Para conferir se esse processo alterou não só a aparência mas também a mente dos animais, os pesquisadores realizaram uma comparação entre 37 filhotes de lobo e 44 filhotes de cachorro, todos com idade entre 5 a 18 semanas. A pesquisa foi publicada no último dia 12, na revista Current Biology.

Os filhotes de lobo, separados de suas mães alguns dias após o nascimento, viviam com muita interação humana no Wildlife Science Center, um centro de pesquisa e conservação da vida animal selvagem localizado nos Estados Unidos. Os pesquisadores fizeram alguns testes para verificar a ancestralidade genética desses filhotes e garantir que eram lobos de fato, e não híbridos de cão e lobo – fruto do cruzamento entre as espécies.

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Já os cachorros que participaram do estudo eram, em sua maioria, criados por uma ONG chamada Canine Companions for Independence, que treina os animais para prestação de serviços – como cães-guia. Estes viviam com menos contato humano do que os filhotes de lobo e ainda estavam acompanhados de suas respectivas mães.

Os pesquisadores realizaram alguns testes e desafios com os filhotes para verificar suas habilidades relacionadas à leitura de gestos humanos e outras habilidades cognitivas, como memória e controle do impulso motor – como um teste em que os animais deviam fazer desvios em torno de obstáculos transparentes para alcançar uma guloseima.

Em dos testes para “leitura” de pessoas, a equipe escondeu uma porção de comida e forneceu pistas aos filhotes para ajudá-los a encontrá-la. Os pesquisadores apontavam e olhavam na direção correta, por exemplo, ou indicavam o esconderijo posicionando um bloco de madeira ao lado dele – um gesto que os filhotes não tinham como conhecer previamente.

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Mesmo sem nenhum treinamento específico, os filhotes de cachorro com apenas oito semanas de idade sabiam para onde ir e mostraram duas vezes mais chances de acertar onde estava a guloseima do que os filhotes de lobo da mesma idade. 

A equipe de pesquisadores se certificou, a partir de testes de controle, que os filhotes não estavam apenas farejando a comida para encontrá-la.

Em outro teste, os filhotes de cães foram trinta vezes mais propensos a se aproximar de um humano desconhecido e fizeram mais contato visual com as pessoas do que os filhotes de lobo.

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Já quando apresentados a uma porção de comida dentro de um recipiente fechado, os lobos tentavam resolver o problema por conta própria, enquanto os cães passavam mais tempo procurando ajuda dos humanos.

Hannah Salomons, autora principal do estudo, explica que não se trata de qual espécie é mais inteligente, afinal, os cães e os lobos foram igualmente bem nos testes de outras habilidades além das relacionadas à interação humana. O que o estudo evidenciou foi a diferença na capacidade de leitura de gestos humanos entre as duas espécies.

“Existem muitas maneiras diferentes de ser inteligente”, disse Salomons. “Os animais desenvolvem cognição de uma forma que os ajudará a ter sucesso em qualquer ambiente em que vivam.”

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Ela indica que os filhotes de lobos e cães do estudo são igualmente adoráveis ​​e fazem várias coisas parecidas, mas suas respostas aos humanos não poderiam ser mais diferentes. 

Os filhotes de lobo eram mais tímidos e os cães mais brincalhões, por exemplo. “Se você entrasse no cercado dos filhotes de cachorro com que trabalhamos, eles se juntavam e queriam subir em você e lamber seu rosto. Enquanto isso, a maioria dos filhotes de lobo corria para o canto e se escondia”, disse Salomons.

O processo de domesticação

Existem controvérsias sobre muitos aspectos do processo de domesticação dos lobos, mas é certo que os cães que conhecemos hoje não surgiriam sem a influência humana.

Uma das teorias é que, em algum momento entre 20 e 40 mil anos atrás, os lobos menos ariscos se aproximaram de caçadores humanos para aproveitar algumas sobras de comida. Os humanos notaram que os lobos poderiam fornecer alguma proteção contra ataques de animais maiores, e os lobos perceberam que os humanos poderiam lhes ajudar a conseguir alimento.

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Assim, a relação de ajuda entre as espécies teria se firmado com o passar das gerações, e os lobos teriam evoluído junto com a gente em um processo de domesticação.

O autor sênior do estudo publicado na Current Biology, Brian Hare, afirma que a pesquisa solidifica as evidências de que a aptidão social dos cães é um produto da domesticação. 

“Os cães nascem com a capacidade inata de entender que estamos nos comunicando com eles e tentando cooperar com eles”, explica Salomons.

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