Pesquisadores fazem “almôndega de mamute” com DNA do animal extinto
O mamute-lanoso foi extinto há 4 mil anos. Mas isso não impediu os cientistas de fazer, em laboratório, uma amostra de sua carne.
O mamute-lanoso foi extinto há 4 mil anos. Cientistas buscam usar seu DNA para trazê-lo de volta à vida no século 21, à la Jurassic Park. A empreitada ainda não deu certo – mas o objetivo foi alcançado de outra forma. Uma start-up australiana criou uma bola de carne em laboratório a partir da sequência de DNA do mamífero – basicamente uma almôndega de mamute.
Se você está empolgado para experimentar, sinto decepcionar. A carne de mamute não está disponível nos supermercados, já que, por ora, ela não foi feita para ser comida. Ao invés de aumentar as opções de açougue, o plano dos cientistas era mostrar os impactos ambientais das práticas agrícolas, desafiar o público e a indústria da carne a pensar de maneira diferente sobre como produzimos e consumimos alimentos, além de apresentar a carne cultivada como uma alternativa viável à pecuária tradicional.
“Queríamos deixar as pessoas empolgadas com o fato de o futuro dos alimentos ser diferente”, disse Tim Noakesmith, cofundador da Vow, a empresa por trás da almôndega. “Existem coisas que são únicas e melhores do que as carnes que estamos comendo agora. Queríamos ver se poderíamos criar algo que fosse um símbolo de um futuro mais empolgante, não apenas melhor para nós, mas também melhor para o planeta.”
Hoje, a agricultura e a pecuária ocupam bilhões de acres de terra, e os gases do efeito estufa liberados por essas atividades representam 30% das emissões globais. A carne cultivada a partir de células animais requer menos espaço e menos água do que a criação de gado e, por ser produzida em laboratório, pode ser projetada para atender às preferências nutricionais e de sabor, segundo uma declaração da Vow.
A almôndega de mamute só foi possível porque, em 2015, pesquisadores conseguiram sequenciar o genoma completo do animal. Os cientistas da Vow partiram do DNA da mioglobina do mamute, uma proteína que dá cor e sabor à carne, e usaram dados genéticos de um parente próximo, o elefante africano, para preencher algumas lacunas no genoma do animal extinto. Então, a sequência foi inserida em células de ovelha e se multiplicaram até virar os 20 bilhões de células que compõem a bola de carne.
Os presentes no evento de apresentação descreveram o cheiro como semelhante à carne de crocodilo, mas não houve degustação, e o seu gosto ainda é um mistério.
“Estamos falando de uma proteína que não existe há 5.000 anos”, disse James Ryall, diretor científico da Vow. “Não tenho ideia de qual pode ser a alergenicidade potencial dessa proteína em particular.”