Tayana Tsubone pesquisa como usar a luz para o tratamento de câncer
A pesquisadora da UFU conta sobre sua carreira na bioquímica, em que desenvolve compostos fotodinâmicos que podem ser usados em diversos tratamentos
Não é exagero dizer que Tayana Tsubone ama o que faz na profissão desde criança. Quando pequena, ela gostava de brincar de escolinha e, com uma lupa, olhava as coisas pequenas ficarem enormes e concentrava a luz do Sol para queimar folhas. “Eu gostava muito dessa brincadeira. E hoje, com o que eu trabalho? Eu utilizo a luz para eliminar células indesejadas.”, conta.
Formada em química, a pesquisadora estuda compostos fotodinâmicos – ou seja, que reagem diante da luz. Eles podem ser utilizados para tratamentos diversos, desde micoses de unha até cânceres. Sua pesquisa começou na graduação e virou um mestrado em bioquímica na Universidade de São Paulo (USP). Mas era uma pesquisa robusta e ambiciosa e, no meio do caminho, evoluiu para um doutorado.
Mas o que exatamente é a pesquisa em compostos fotodinâmicos?
Você já se perguntou como um remédio sabe exatamente onde agir no seu corpo? Então, esse é um problemão para quem os desenvolve também. No caso de tratamentos agressivos, como os que agem em tumores, é importante que a medicação atue precisamente no lugar certo. Nem sempre isso é possível, e é por isso que os tratamentos de câncer são tão complexos e têm tantos efeitos colaterais.
Tayana estuda um tipo de tratamento que tenta driblar essa situação, ativando o medicamento apenas no lugar necessário. É como se o composto viajasse pelo corpo quietinho, na dele. Aí, diante de certas condições, ele começa a agir.
Nesse caso, a condição é a luz. É como se, ao apontar um foco de luz para essas substâncias, elas começassem a agir de outra forma. Com o planejamento correto, esse mecanismo pode controlar precisamente onde o remédio vai agir.
“Essa é a vantagem da terapia fotodinâmica: o composto ideal, na ausência de luz, não é tóxico. Ele só vai ser tóxico quando e onde colocar a luz.”, explica Tayana. Essa técnica já é aplicada em várias áreas, e é bastante comum na odontologia e na podologia.
Em seu projeto recente, Tayana procura desenvolver tratamentos para infecções bacterianas. Os tratamentos poderiam auxiliar na diminuição da resistência bacteriana, já que o uso indevido de antibióticos tem contribuído para o surgimento de bactérias multirresistentes que já não respondem aos medicamentos tradicionais.
Em seu laboratório, Tayana pesquisa a viabilidade e a eficácia de compostos fotoativos para tratamentos in vitro. Assim, ela e seus alunos investigam se mudanças moleculares podem fazer um composto ser mais ou menos eficiente no combate a uma condição específica.
Entretanto, essa é apenas a ponta de uma longa cadeia de pesquisa. Quando seu laboratório publica um resultado promissor, cientistas de outras áreas do conhecimento continuam estudando as possíveis aplicações daquela tecnologia, realizando testes clínicos, analisando a viabilidade econômica etc.
Tayana é professora universitária na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em Minas Gerais. Além de coordenar as pesquisas, orientar alunos e dar aulas, ela também tem um novo “projeto”: uma filha. Quando conversamos, Tayana tinha acabado de retornar do período de licença maternidade somado com férias. Ela fala da dificuldade em conciliar a carreira acadêmica com a maternidade.
Uma das questões: os prazos das pesquisas e das bolsas de financiamento não param quando a orientadora e coordenadora do laboratório está afastada. Ela conta que solicitou à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) que aumentasse em seis meses o prazo para utilização de verbas de um projeto, já que estaria de licença maternidade. O pedido foi negado, e lá foi Tayana coordenar a compra de reagentes e materiais para o laboratório enquanto cuidava de sua neném recém nascida. O mesmo vale para a orientação de alunos da pós-graduação, que também foram orientados à distância durante o afastamento.
“Realmente, os desafios de lidar com a maternidade e a ciência são grandes, mas a minha vontade de ser mãe e ser cientista é maior. Então eu tenho certeza que eu vou fazer o meu melhor para conseguir tirar o melhor desempenho de cada área.”
Tayana foi recentemente contemplada com uma bolsa do programa Para Mulheres na Ciência, financiado pelo Grupo L’Oréal no Brasil, Academia Brasileira de Ciências e UNESCO no Brasil.