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Registros fecais apontam que maias foram afetados por mudanças climáticas

Arqueólogos examinaram moléculas orgânicas encontradas em resquícios de fezes no fundo de um lago do sítio arqueológico de Itzan, na atual Guatemala. A pesquisa sugere que tanto as secas quanto períodos muito úmidos causaram declínio populacional.

Por Luisa Costa
7 jul 2021, 14h40

A civilização maia ocupou diversos territórios na América Central antes de seu declínio e extinção com a chegada dos espanhóis. Hoje ela é objeto de estudo de arqueólogos que tentam entender, entre outros aspectos, como era a dinâmica demográfica de muitos locais.

Acredita-se que declínios populacionais e grandes migrações ocasionalmente aconteceram em algumas regiões maias em períodos de seca. Mas pesquisadores mostraram em um estudo recente que períodos muito úmidos também podem ter tido um papel importante nessa questão.

Os cientistas estudaram a variação de tamanho da população maia no sítio arqueológico de Itzan, um antigo centro populacional na atual Guatemala, a partir de registros fecais e outras evidências arqueológicas. A pesquisa foi conduzida pela Universidade McGill (Canadá) e publicada na revista Quaternary Science Reviews.

Os registros fecais fazem parte de uma técnica relativamente nova utilizada pelos arqueólogos, que consiste na observação de estanóis fecais – moléculas orgânicas encontradas em resquícios muito antigos de fezes humanas ou animais. Neste caso, os cientistas analisaram registros fecais retirados do solo abaixo de um lago de Itzan.

Os estanóis foram utilizados para estimar o tamanho da população no local ao longo do tempo – basicamente, uma grande quantidade de registros fecais indica uma maior população. Os pesquisadores analisaram como as medições dos estanóis se alinhavam com as mudanças climáticas ocorridas no local ao longo do tempo, a partir de informações já existentes de outras fontes arqueológicas. 

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Tradicionalmente as estimativas da dinâmica populacional nas planícies maias têm sido obtidas por meio da inspeção e escavação do solo – assim, os arqueólogos localizam e escavam antigas estruturas residenciais para estimar as datas de ocupação.

Benjamin Keenan, autor principal do estudo, afirma: “Esta pesquisa deve ajudar os arqueólogos, fornecendo uma nova ferramenta para observar as mudanças que podem não ser vistas em outras evidências arqueológicas, porque estas podem nunca ter existido ou podem ter sido perdidas ou destruídas”. “As planícies maias [na Mesoamérica] não preservaram muito bem edifícios e outros registros da ocupação humana por causa do ambiente da floresta tropical.”

O estudo dos registros fecais do sedimento do lago de Itzan confirma que a população maia da área diminuiu por conta da seca em três períodos: entre os anos 90 e 280 d.C., entre 730 e 900 d.C. e entre 1350 e 950 a.C. – um período de seca menos estudado.

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Os pesquisadores mostraram que a população também diminuiu durante um período muito úmido e chuvoso, de 400 a 210 a.C. Assim, percebe-se que as mudanças climáticas atingiram a população em ambos os extremos (de seca e umidade), e não apenas durante os períodos secos.

“É importante para a sociedade saber que existiram civilizações antes de nós que foram afetadas e tiveram de se adaptar às mudanças climáticas”, afirma Peter Douglas, também autor do estudo. “Ao relacionar as evidências de mudanças climáticas e populacionais, podemos começar a ver uma ligação clara entre a precipitação e a capacidade dessas cidades antigas de sustentar sua população.”

Os cientistas também perceberam uma quantidade relativamente baixa de estanóis fecais no sedimento do lago, referentes a uma época em que houve grande população em Itzan – segundo outras evidências arqueológicas. Uma possível explicação é que os dejetos humanos fossem usados no solo, como fertilizante, em vez de despejados no lago. Essa teria sido uma técnica utilizada pelos maias para se adaptar a questões ambientais, como degradação do solo e perda de nutrientes.

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