Faca cirúrgica que “cheira” tumores identifica câncer de útero em segundos
A iKnife usa correntes elétricas para diferenciar tecido canceroso e saudável, analisando a fumaça emitida quando a biópsia do endométrio é vaporizada.
Entre os tipos de câncer, o de útero é o quarto mais comum em mulheres – os três primeiros são, nesta ordem, de pele, de mama e de intestino.
O fator causal, em grande parte, é o vírus HPV, para o qual há vacina na rede pública. Mas, para quem tem suspeita de um tumor maligno no órgão, já há um instrumento capaz de fazer um diagnóstico muito rápido.
É a iKnife (de “faca inteligente”), que diz aos cirurgiões imediatamente se o tecido que estão cortando é cancerígeno ou não. O dispositivo foi criado pelo professor Zoltan Takats, do Departamento de Metabolismo, Digestão e Reprodução do Imperial College London (Reino Unido).
Em cânceres envolvendo tumores sólidos, o cirurgião costuma retirar o tumor com uma margem de tecido saudável. No entanto, muitas vezes é impossível dizer de vista qual tecido é canceroso e qual não é. Então fica a dúvida: em que ponto começa o tecido saudável? Qual a extensão do órgão que precisa ser retirada? É para responder a essas questões e auxiliar em avaliações de biópsias muito rápidas que a iKnife foi desenvolvida.
Essa faca cirúrgica já vinha sendo usada em casos de câncer de mama e de cérebro. Agora pesquisadores do Imperial College London descobriram que ela também pode diagnosticar a presença de câncer no endométrio (tecido que faz o revestimento do interior do útero) em questão de segundos.
“A iKnife diagnosticou de forma confiável o câncer de endométrio com uma precisão de 89%, minimizando os atrasos atuais para as mulheres enquanto aguardam um diagnóstico histopatológico”, escreveu a equipe de pesquisadores na revista Cancers.
E, para isso, a faca “cheira” o tecido suspeito. A iKnife usa correntes elétricas para diferenciar entre tecido canceroso e saudável, analisando a fumaça que é emitida quando o tecido da biópsia é vaporizado, depois de ter sido removido do útero.
Os pesquisadores disseram que sua eficácia foi comprovada em estudo usando amostras de tecido de biópsia de 150 mulheres com suspeita de câncer de útero – os resultados foram comparados com os métodos atuais de diagnóstico.
Agora a equipe planeja lançar um grande ensaio clínico, o que pode levar à disseminação de seu uso.
“O câncer de útero tem um sintoma de ‘bandeira vermelha’, o sangramento pós-menopausa, que sempre deve ser verificado em um encaminhamento de duas semanas pelo seu médico”, explica Athena Lamnisos, diretora-executiva da instituição Eve Appeal, que financiou a pesquisa. “Esperar mais duas semanas pelos resultados pode ser muito difícil para as pacientes”.
Existem muitas razões para o sangramento vaginal anormal após a menopausa – o câncer de útero é apenas uma delas. Em 90% dos casos, não é câncer. Mas é preciso investigar. Então fornecer um diagnóstico que indique ou exclua o câncer imediatamente e com precisão pode fazer uma diferença muito positiva para a saúde psicológica das mulheres.