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Isolamento vertical não conteria a epidemia; entenda por que

A medida, pela qual só idosos e grupos de risco ficariam isolados, vai contra a recomendação do Ministério da Saúde - e expõe a população a risco.

Por Carolina Fioratti
25 mar 2020, 15h51

Na manhã desta quarta-feira (25), o presidente Jair Bolsonaro declarou que iria conversar com o ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, para rever os métodos de contenção do novo coronavírus. O presidente defende o chamado isolamento vertical, ou seja, que apenas idosos, pessoas com doenças pré existentes ou com suspeita de infecção fiquem em casa. Por esse raciocínio, escolas, faculdades, empresas e comércios deveriam ser reabertos. 

É uma lógica diferente do isolamento horizontal, que vem sendo gradualmente adotado no Brasil e tem como objetivo isolar o máximo possível de pessoas para conter a propagação do vírus. Com menos gente sendo infectada, a sobrecarga sobre os hospitais é menor, e o número de mortos também. O Brasil tem menos de dois leitos hospitalares para cada mil pessoas. Se o SARS-CoV-2 se espalhar de forma descontrolada, será muito difícil evitar o colapso do sistema de saúde.

O isolamento vertical vai contra essa ideia – e coloca vidas em risco. Imagine que você more com seus pais, avós ou até um irmão diabético (grupos de risco). A instrução é para que eles fiquem em casa, mas você segue trabalhando, utilizando transporte público, tendo contato com possíveis infectados, até que acaba levando o vírus para casa. Ou seja: as pessoas dos supostos grupos de risco acabam sendo expostas à Covid-19. A mesma coisa poderia acontecer se as crianças retornarnassem às escolas: elas poderiam transmitir o vírus a seus avós. 

Além disso, apesar de as pessoas mais jovens não estarem nos grupos de risco, elas também podem ser infectadas e desenvolver formas graves da doença. Uma pesquisa realizada pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA aponta que 53% dos pacientes internados em UTI eram maiores de 65 anos – ou seja, 47% não eram idosos.  

Até o dia 23 de março, o primeiro ministro do Reino Unido, Boris Johnson, defendia o isolamento vertical. Após 335 mortes, estabeleceu uma quarentena no país. Cenário conflitante também ocorreu na Itália, em que, ainda em fevereiro, a prefeitura de Milão defendia a reabertura de museus e restaurantes. A situação se manteve até 8 de março, quando foi declarado o fechamento do país – já com 366 óbitos registrados. 

Até o momento, o Brasil conta com 47 mortes – 40 delas em São Paulo – e 2.281 infectados. Ainda não há vacina ou remédio para prevenção ou tratamento da Covid-19. Enquanto isso, a recomendação do Ministério da Saúde continua sendo o distanciamento social (só é permitido sair de casa em situações cruciais) e a higienização das mãos com água e sabão. 

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