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Surto de doença em Pernambuco pode estar relacionado à ivermectina, diz estudo

Em agosto, pesquisadores alertaram que uso indiscriminado desse medicamento durante a pandemia poderia provocar um surto de sarna humana. Agora, há centenas de pessoas com sintomas típicos da doença.

Por Luisa Costa
Atualizado em 25 jul 2022, 11h41 - Publicado em 30 nov 2021, 18h28

Em Pernambuco, cada vez mais pessoas sofrem de uma coceira intensa, com feridas avermelhadas na pele. Os casos começaram a aparecer no início de outubro, em Recife, capital do estado. Desde então, há pelo menos 264 pessoas com os sintomas, segundo a Secretaria de Saúde de Pernambuco.

E o número pode ser ainda maior. Incluindo informações divulgadas pelas prefeituras, o Estado já teria chegado a 427 casos. Estima-se que, em apenas uma semana, os casos da coceira mais que dobraram. E a preocupação se estende a estados vizinhos: a Paraíba já investiga 11 casos suspeitos.

A doença está sob investigação, e ainda não se sabe a causa da coceira misteriosa – escabiose (ou sarna), arboviroses e alergias estão entre possibilidades levantadas por secretarias de Saúde. O surto pode estar relacionado ao uso indiscriminado de ivermectina.

É o que diz um artigo publicado por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Ele foi publicado em agosto na revista Research, Society and Development, e alertava que um surto de escabiose resistente poderia acontecer. O artigo foi republicado na última sexta-feira (26) pela universidade.

Hipótese do estudo

Pesquisadores do Instituto de Ciências Farmacêuticas (ICF) da Ufal levantaram a hipótese a partir da observação de casos de sarna resistente à ivermectina, dados de aumento de consumo do medicamento durante a pandemia e surtos isolados de escabiose.

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Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, a escabiose é uma doença causada pelo pelo ácaro parasita Sarcoptes scabiei, e o contágio se dá por contato direto com pessoas ou roupas e outros objetos contaminados. 

Já a ivermectina é um medicamento utilizado para combater parasitas diversos (como piolhos, carrapatos e vermes), mas que ganhou fama durante a pandemia de Covid-19. A ivermectina não é eficaz contra o coronavírus; isso é mito, e resulta de uma fraude científica. Mas, mesmo assim, muitas pessoas passaram a consumir o remédio para tentar prevenir ou tratar a Covid-19.

Os pesquisadores perceberam que, com o uso indiscriminado do medicamento, o ácaro causador da sarna poderia desenvolver resistência ao medicamento. Segundo Sabrina Neves, uma das autoras do artigo, o uso incorreto de medicamentos é ainda mais preocupante à saúde pública quando se trata de antibióticos, antiparasitários e antifúngicos. “Quando utilizamos de forma incorreta medicamentos como a ivermectina, corremos o risco de induzir a resistência do parasita ao medicamento que deveria tratar a doença causada por ele”, afirma a pesquisadora.

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É como a resistência bacteriana, que você já deve ter ouvido falar. A pressão de remédios faz com que apenas os organismos mais “fortes” (imunes à pressão) sobrevivam, se reproduzam e disseminem. O uso excessivo de antibióticos faz com que esse processo se acelere e gere “super bactérias”; o uso excessivo de antiparasitários traz o risco do surgimento de “super parasitas” e assim por diante. 

A ivermectina fez parte do conjunto de remédios conhecido popularmente como “kit Covid” (do qual também fazem parte a hidroxicloroquina e a azitromicina) e chegou a ter alta de 1.272% nas vendas em um ano. Tudo isso sem ter eficácia comprovada contra o Sars-CoV-2 e representando perigo de danos hepáticos e neurológicos. (Entenda melhor nesta reportagem da Super.)

 

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