Entenda o que é paralaxe, que aparece na astronomia e no futebol
Conceito usado por astrônomos há milhares de anos pode explicar situações polêmicas nas transmissões de jogos de futebol. Saiba como.
Você provavelmente não quer mais saber de futebol agora que a seleção brasileira está desclassificada da Copa do Mundo. Mas, calma: a gente promete contar uma coisa legal sobre o esporte. Vamos lá.
Se você assistiu aos jogos das últimas semanas, ou acompanha futebol regularmente, já deve ter se deparado com esta clássica (e polêmica) situação: a bola sai do campo, por um triz, mas o árbitro não apita. Ou você pode jurar que a bola saiu do campo, enquanto assiste à cena de novo, uma ou duas vezes.
Então você se pergunta se seus olhos estão te enganando. Bom… sim. Nem sempre o que a gente vê corresponde ao que realmente aconteceu. E o que está por trás disso é um conceito usado há milhares de anos por astrônomos, chamado paralaxe.
Para entender, comece com este exercício: estique o braço e esconda a visão de um objeto com o polegar. Feche um dos olhos e depois troque. Você terá a impressão de que o objeto mudou de lugar, aparecendo mais à esquerda ou à direita do seu dedo, como se você estivesse observando a partir de posições diferentes.
É que, na verdade, você está. Nossos olhos fornecem uma visão a partir de ângulos ligeiramente diferentes, por conta da distância entre eles. E a mudança de ponto de vista, que acontece em uma situação como o exercício sugerido acima, causa um deslocamento aparente do objeto. Isso é paralaxe.
E é essa diferença de referencial que atrapalha nossa percepção de alguns lances quando assistimos a jogos de futebol. Você pode jurar que a bola saiu do campo – como neste momento da partida entre Japão e Espanha. Mas a nossa posição – ou o ângulo de visão que nos é fornecido pela câmera – dá uma impressão errada da verdadeira posição da bola. E aí você fica xingando a mãe do juiz.
Paralaxe na astronomia
De volta ao exercício que sugerimos acima: se você medir o deslocamento aparente do objeto e conhecer a distância entre seus olhos, pode (teoricamente) calcular a distância até seu polegar. Claro, você não precisa – nem quer – fazer isso. Mas, da mesma forma, os astrônomos podem medir a que distância de nós estão outros objetos no espaço.
Aline Novais, doutoranda em astronomia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, explica que isso é feito da seguinte maneira: observa-se uma estrela próxima em junho e, depois, em dezembro, por exemplo. São dois pontos de vista diferentes; afinal, a Terra viajou ao redor do Sol. Imagine que ela está primeiro de um lado do astro-rei; depois em outro.
Como um objeto qualquer tampado por seu dedão, a estrela não mudou de posição. O que mudou foi o ângulo a partir do qual nós a enxergamos. Houve um deslocamento aparente da estrela. Os astrônomos medem esse deslocamento em relação a estrelas em segundo plano; e, com base na distância entre a Terra e o Sol, calculam a que distância de nós está a estrela.
Acredita-se que o astrônomo grego Hiparco fez as primeiras medições astronômicas a partir do conceito de paralaxe, lá no século 2 a.C. Ele é considerado o pai da trigonometria, ramo da matemática que está por trás destes cálculos.