Seu horário de refeição pode alterar seu estado psicológico
Estudo sugere que conciliar a hora do almoço com os ciclos circadianos tende a melhorar sua saúde mental
Em 1972, o geólogo francês Michel Siffre se propôs a um experimento curioso. Ele passou seis meses dentro de uma caverna no Texas, nos EUA. Já tinha passado 60 dias em uma nos Alpes, mas queria aumentar o nível de confinamento. Seu corpo passou a trabalhar em ciclos de 48 horas, sendo 36 horas de vigília e 12 horas de sono, ao contrário do recomendado de 8 horas de sono e 16 acordado. Ao final de seu experimento, Siffre havia desenvolvido sérios problemas psicológicos.
Mesmo trocando o dia pela noite durante anos, nosso corpo não se adapta totalmente à mudança de horário – e não precisa ser tão radical quanto Siffre. Efeitos adversos dessa troca costumam ser piores quanto mais tempo passam alterados.
Uma nova pesquisa sugere uma forma de reduzir a vulnerabilidade do humor associada com o trabalho noturno: restringir as refeições ao período diurno.
O experimento foi conduzido ao longo de duas semanas, com 19 participantes em um trabalho noturno simulado. Uma parte dos voluntários fazia refeições tanto de dia quanto de noite – o que é comum para quem trabalha em horários noturnos; já a outra, comia apenas de dia.
Tirando isso, ambos os grupos eram expostos às mesmas condições de luz, ingeriam a mesma quantidade de calorias, tinham a mesma duração de sono e faziam as mesmas atividades físicas.
Durante essas semanas, os cientistas quebraram o alinhamento entre o ciclo circadiano dos participantes e os ciclos de dia e noite do ambiente. Usando luzes difusas durante quatro períodos, eles dessincronizaram os relógios biológicos em quatro horas por período, resultando em uma diferença de 12 horas comparada ao início do experimento.
Os voluntários que fizeram as refeições de dia e de noite apresentaram um aumento médio de 26% em indicadores emocionais de depressão e 16% para indicadores de ansiedade. Enquanto o grupo que comia apenas durante o dia não apresentou essas mudanças. Os indivíduos mais afetados pelo desalinhamento também eram mais propensos a apresentar sintomas ligados à depressão e à ansiedade.
Essas descobertas, segundo os cientistas, demonstram que intervir no cronograma de alimentação pode reduzir a vulnerabilidade do humor em certos ambientes de trabalho. Enfermeiros, porteiros, atendentes ou policiais que precisam trabalhar em períodos noturnos podem reduzir alguns dos efeitos negativos vinculados a esse turno. E também fica a dica para não atrasar a janta.