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“Homem-dragão”: crânio revela aparência dos denisovanos, primos extintos dos humanos

Proteínas e DNA extraídos de um fóssil misterioso preenchem uma lacuna que intriga cientistas há 15 anos; entenda.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 30 jun 2025, 12h37 - Publicado em 26 jun 2025, 19h00

Um crânio misterioso de 146 mil anos descoberto na China em 1933 gerou uma discussão intensa na comunidade científica: a que espécie de hominídeo o fóssil pertence? Várias hipóteses foram levantadas, sem consenso. Agora, finalmente temos uma resposta para esse impasse centenário – e ela resolve também outro enigma que dura há 15 anos: qual era a aparência dos denisovanos, nossos primos perdidos?

Dois novos estudos identificaram o “crânio de Harbin”, também apelidado de “crânio do homem-dragão”, como sendo um denisovano, contrariando a ideia anterior de que ele pertencia a uma espécie inédita e desconhecida. Com isso, pela primeira vez sabemos como eram as feições faciais deste nosso parente extinto.

Os denisovanos foram hominídeos do gênero Homo que habitaram principalmente a Ásia e conviveram com os sapiens – e procriaram com eles, já que muitos humanos modernos possuem um pouquinho de DNA denisovano, especialmente na Ásia e na Oceania.

Diferentemente dos neandertais, que também coexistiram espacialmente e temporalmente com humanos e possuem um amplo registro fóssil e arqueológico, os denisovanos são bem misteriosos. A espécie só foi descoberta em 2010, a partir de alguns poucos ossos encontrados na caverna de Denisova, na Rússia (daí o nome). 

Por muito tempo, tudo que se sabia sobre eles consistia em quatro fragmentos ósseos isolados. Desde 2019, porém, pesquisadores chineses começaram a identificar novos fósseis de denisovanos no país asiático – alguns tinham sido encontrados muito tempo antes, mas pouco estudados. E, agora, essa história ganhou um novo capítulo.

O homem dragão

Em 1933, operários que construíam uma ponte perto da cidade de Harbin, no nordeste da China, encontraram um crânio quase completo. Ele acabou esquecido, mas foi entregue a pesquisadores em 2018, e então o osso foi estudado e datado de, pelo menos, 146 mil anos atrás. Mas ninguém sabia exatamente a qual espécie o fóssil pertencia.

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A hipótese mais convincente saiu só em 2021, quando pesquisadores chineses concluíram que o mais provável era que o crânio vinha de uma espécie de hominídeo inédita, chamada de Homo longi e apelidado de “homem-dragão” (porque a região onde o fóssil foi encontrada significa, em chinês, “rio do dragão”).

A identificação, porém, foi feita sem análise de DNA envolvida (é difícil extrair material genético de fósseis antigos, diga-se). Por isso, conforme noticiamos na época, os próprios autores reforçaram que ainda havia uma outra possibilidade: do crânio pertencer a um denisovano, que sabemos que habitavam a Ásia nesta época. Isso, porém, era impossível de concluir apenas com características morfológicas, porque simplesmente não sabemos qual era a aparência dos nossos primos perdidos. Seria preciso, então, encontrar DNA.

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Uma resposta

O debate chegou ao fim, finalmente, em junho de 2025. Dois estudos feitos por cientistas chineses concluíram que o crânio de Harbin é de fato um denisovano. Um deles, publicado na revista Science, chegou a essa conclusão com base na análise das proteínas encontradas no fóssil; o outro, da revista Cell, finalmente conseguiu extrair DNA mitocondrial do osso.

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Mais especificamente, a equipe liderada pela paleontóloga Qiaomei Fu analisou um dente do crânio. Por sorte, o molar possuía um pouco de tártaro dentário fossilizado (também conhecido como placa dental), que acabou servindo como uma camada dura e preservou material orgânico dentro dela.

Fotografia de um amostras de um dente no crânio de Harbin e do osso que envolve o ouvido interno.
Dente do crânio Harbin que preserva tártaro fossilizado com material denisovano. (Qiaomei Fu/Divulgação)

A equipe conseguiu extrair míseros 0,3 mg de tártaro fossilizado do dente, mas isso bastou: usando técnicas avançadas e inovadoras, os cientistas conseguiram extrair DNA mitocondrial de lá e amostras de várias proteínas.

O primeiro artigo focou em estudar as proteínas – que são moléculas grandes construídas por bloquinhos menores, os aminoácidos. A análise encontrou pelo menos três variações específicas de aminoácidos características dos denisovanos, encontrados inclusive nos fósseis “originais” da caverna de Denisova.

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O segundo artigo atingiu uma proeza ainda maior: confirmação por DNA. No caso, foi usado o DNA mitocondrial, que é diferente do DNA presente no núcleo da célula – ele fica dentro da organela mitocôndria, é passado de mãe para os filhos e é bem mais curto e simples.  Os resultados também mostram que o indivíduo é, de fato, um denisovano, compartilhando características genéticas com os fósseis da Rússia.

Ou seja: com duas confirmações independentes, dá para dizer com bastante confiança que o “homem-dragão” é um denisovano – ainda que, para cravar de vez, seria bom incluir DNA nuclear na análise. Isso é interessantíssimo porque, pela primeira vez, sabemos como era o rosto desse nosso primo perdido. Há, inclusive, reconstruções artísticas de como ele se parecia, como a que você vê abaixo (ainda que haja um grau de incerteza nelas, pois não sabemos exatamente como eram os olhos, cabelos e cor da pele deles):

Reconstituição do Homo longi.
Reconstituição do Homo longi, o “homem-dragão”. (Innovation DOI: (10.1016/j.xinn.2021.100130)/Reprodução)

Isso significa também que vai ser mais fácil identificar outros fósseis que estão espalhados em museus e universidades mundo afora e que talvez sejam denisovanos. Antes, só tínhamos pedacinhos de ossos deste hominídeo, então não dava para fazer uma comparação visual. Agora, o trabalho ficou bem mais fácil.

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