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Único inseto natural da Antártida pode entrar em extinção

Um pequeno artrópode aprendeu a perder umidade para sobreviver ao congelamento - e essa pode ser sua ruína.

Por Leo Caparroz
4 jul 2022, 19h05

Experimentos de laboratório conduzidos por uma equipe de pesquisadores dos EUA, Reino Unido e África do Sul mostraram que o aumento da temperatura na Antártida pode colocar em risco a vida do único inseto da região.

Geralmente menor que 1 centímetro de comprimento, ​​o artrópode pequenino Belgica antarctica também é o maior animal terrestre a nunca entrar no oceano. O seu ciclo de vida, marcado por quatro estágios larvais, ocorre em meio a leitos úmidos de musgo e algas, em que ele se alimenta da vegetação e dos resíduos apodrecidos.

Até mesmo esses refúgios congelam durante os invernos rigorosos da Antártida, bloqueando a umidade e ameaçando congelar, também, os insetos. Então, o mosquito desenvolveu uma estratégia para resistir ao frio e evitar a morte.

Como proteção contra o dano causado pelos cristais de gelo, ele se seca lentamente. Sob as condições certas, os insetos têm grande chance de sobreviver até o verão, mesmo depois de perder até três quartos de sua umidade.

Na Península Antártica, microclimas como os ocupados pelo inseto tendem a oscilar entre -5 e 0 graus Celsius. Protegidas por camadas de neve e gelo, as temperaturas podem despencar ao ar livre, mas tem pouco efeito no habitat coberto do bicho.

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Com o constante aumento das temperaturas essas condições relativamente protegidas podem mudar. Temperaturas mais altas podem significar mais precipitação, o que significaria mais neve e criaria um isolamento mais espesso, que diminuiria as chances de congelamento no inverno.

Para ver exatamente que efeito isso teria no B. antarctica, os pesquisadores coletaram larvas de mosquito nos arredores de uma estação na Ilha Anvers, na ponta da Península Antártica.

Esses espécimes foram então enviados de volta a um laboratório nos EUA, onde passaram seis meses vivendo em condições de inverno sutilmente diferentes, entre -5 graus Celsius e -1 grau. Diferentes tipos de substrato, como musgo e algas, também foram testados.

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Ao descongelar em água gelada, os cientistas examinaram os sobreviventes quanto a sinais de movimento, danos nos tecidos e estoques de energia, carboidratos, gorduras e proteínas.

Essa ligeira diferença de temperatura teve um efeito profundo na recuperação do inseto. Em condições típicas, cerca de metade deles conseguiu se recuperar. Aquecidos por apenas alguns graus, só um terço sobreviveu. As reservas de energia também variaram significativamente, com mais gordura e proteína sendo retidas em condições frias do que em mais quentes.

É difícil dizer que tipo de impacto isso teria a longo prazo se as temperaturas continuarem a subir. Dependendo do estresse causado pelas mudanças climáticas, pode se tratar de um pequeno inconveniente ou de uma ameaça a populações inteiras.

Existe um possível lado positivo, no entanto: mais quentes, os invernos também podem ser mais curtos, deixando mais tempo para os insetos formarem estoques durante o verão. Essa chance ainda será estudada.

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