Sal rosa
O hype do sal rosa do Himalaia é um dos mais vigaristas da história recente. Cantinas, bistrôs e empórios tratam o produto como se a coloração ou a origem dele fossem relevantes para a saúde. Mas não há evidência científica disso.
Rosa ou não, o sal nada mais do que supre nossa cota diária de sódio, que deve ser de 5 gramas segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). “Por achar benéfico à saúde, tem gente que até ingere o sal rosa em quantidades maiores do que a recomendada”, alerta o cardiologista Fernando Bacal, do hospital Albert Einstein.
A propósito: o sal rosa do Himalaia tem o mesmíssimo gosto do sal comum. Quanto à cor diferentona? Nada mais do que impurezas. Salgado, mesmo, é o preço, que chega a ser cinco vezes maior do que o sal de cozinha – já que o sal rosa é importado do Paquistão.
Xampu sem sal não faz diferença
A ideia de que o sal danifica o cabelo pode ter relação com o efeito ressecado dos fios após um banho de mar. No entanto, o cloreto de sódio dos xampus não é um vilão, como muito consumidor imagina.
Empregado para dar consistência ao líquido e fazer espuma, o sal representa menos de 1% da fórmula dos xampus tradicionais – quantidade insuficiente para afetar as madeixas. Os fabricantes, no entanto, fazem publicidade da ausência de sal – e cobram mais por esse tipo de xampu.
Continua após a publicidade
Além disso, todo “xampu sem sal” precisa de algum derivado de sódio na composição para o líquido não escorrer entre os dedos feito água.
Alimentos com colágeno não servem para nada
A indústria cosmética emprega o colágeno em itens que garantem mais firmeza e elasticidade à pele. E não está errada: essa é uma das funções da proteína produzida pelo nosso organismo.
A partir dos 30 anos, os níveis de colágeno começam a diminuir no corpo, resultando em rugas, flacidez e marcas de expressão. O mercado oferece pílulas, shakes, barras de cereal e refrigerantes com colágeno.
Em tese, bastaria ingeri-los para repor a proteína. Mas o organismo não funciona assim. “Nada garante que o colágeno ingerido vá ser usado pelo corpo para reparar rugas”, afirma a dermatologista Michele Haikal. Ou seja, a chance de um alimento com colágeno beneficiar sua cútis é a mesma de outra fonte de proteína, como carnes e ovos.
Continua após a publicidade
Creme dental branqueador não branqueia os dentes
Se você busca ter em casa o mesmo resultado do clareamento feito pelos dentistas, pode esquecer. As pastas de dente clareadoras, no máximo, suavizam manchas escuras ou amareladas. Elas têm partículas mais abrasivas do que as pastas convencionais. Assim, removem mais pigmentos oriundos de resíduos como café e molhos.
Pesquisadores da USP analisaram a ação de três cremes dentais clareadores em um grupo de voluntários. Após três meses de testes, ninguém teve os dentes branqueados. A substância responsável pelo branqueamento é o peróxido de hidrogênio, aplicado em consultórios odontológicos em forma de gel. Os cremes dentais clareadores têm quantidades ínfimas do peróxido – ou sequer incluem-no na fórmula.
Multivitamínicos não previnem doenças
Quem compra suplementos vitamínicos sem recomendação médica ou nutricional está descuidando da saúde financeira. É o que concluiu o Journal of American College of Cardiology ao analisar os resultados de 179 pesquisas feitas entre 2012 e 2017. Não há nenhuma evidência de que a ingestão de multivitamínicos reduza riscos de doenças cardiovasculares, por exemplo.
Em 2013, o periódico Annals of Internal Medicine apontou que, além da falsa noção de combate a doenças do coração, os suplementos também não evitam ou reduzem declínio cognitivo e outras doenças crônicas. “Isso não significa que as vitaminas não tenham seus benefícios”, alerta Synésio da Costa, presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Suplementos Nutricionais e Alimentos para Fins Especiais.
Continua após a publicidade
Em outras palavras, uma dieta variada é suficiente para dar conta do recado. O uso dos suplementos é indicado somente para pessoas com deficiências vitamínicas – de acordo com diagnóstico médico. E só.
Fontes: Ministério da Saúde, Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (ABIQ), Associação Brasileira de Laticínios, Advances in Nutrition, Whole Grains Council, Journal of Food Composition and Analysis, Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC), Anvisa, OMS, União Europeia, e Food and Drug Administration (FDA).
Fotos: Studio Oz
Produção: Ana Requião e Letícia Ferreira